Opinião

Artista censurado em Festival

Itabira do Mato Dentro, município mineiro, berço de nascimento do saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade, volta às manchetes da mídia. Antes, a cidade foi escandalizada com o caso da lésbica Laura Souza, nomeada secretária de Educação. O vice-prefeito, Marco Gomes, pastor evangélico da Igreja Batista Central, na ocasião, disse que “na Prefeitura não dá para enumerar o número de demônios”, em áudio que vazou nas redes sociais. Ele é filiado ao Partido Liberal (PL), mesma legenda do presidente Messias Bolsonaro.

Johnny Hooker / Foto: Manuel Marinho - 

Agora, por pressão de abaixo-assinado, com pouco mais de mil signatários, num universo populacional de mais de 110 mil habitantes, o prefeito Marco Antonio Lage vetou a participação do artista Johnny Hooker no 48º Festival de Inverno de Itabira. A mensagem do abaixo-assinado argumentava que os shows do artista agridem o Estatuto da Criança e do Adolescente; e que os espetáculos dele não seriam adequados para esse público.

Marco Lage não titubeou em tomar providências, acusando mais um golpe desferido pelo seu vice Marco Gomes. Mandou Marcos Alcântara, superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade - FCCDA -, publicar a notícia do cancelamento do cantor pernambucano no Instagram da instituição. O tal anúncio na rede social, no início da noite de domingo passado, pegou a população totalmente distraída, mas logo gerou muitos comentários. Alguns favoráveis à proibição do artista, outros contrários à decisão precipitada do prefeito, rotulada de covarde. Veja no link:

A nota da instituição cultural de Itabira informa que, “em comum acordo com a produção do artista, decidiu cancelar a apresentação de Johnny Hooker no 48º Festival de Inverno de Itabira; o cancelamento não trará qualquer ônus à FCCDA”.  E mais: “Todos os demais artistas e eventos estão confirmados, o que já garante ser este o maior e mais representativo Festival de Inverno nesse quase meio século de realização do mesmo. A Cultura segue sendo valorizada, democratizada e popularizada na terra de Drummond".

Essa nota da FCCDA causa espanto e, por que não dizer, indignação, pela aberração da contradição ao afirmar que “a “cultura segue sendo valorizada, democratizada e popularizada na terra de Drummond”. Como assim, leitores (as), valorizada, democratizada e popularizada, se na essência traz a ignóbil censura? Outro singular absurdo, tão comum no Executivo e Legislativo de Itabira, é a exploração insensata da memória do poeta Drummond, demonstrando incompetência na organização de eventos. Como esse caso deplorável de censura dias antes da abertura da 48ª edição do Festival de Inverno. 

O Folha de Minas publicou a matéria “Cultura é valorizada ou maquiada em Itabira?, no link https://ofolhademinas.com.br/materia/30577/cultura-e-entretenimento/cultura-e-valorizada-ou-maquiada-em-itabira, em 9/10 de 2018. Gentilmente, leitores (as), sugiro a leitura da matéria à qual exponho minha inquietação com o desmazelo cultural de Itabira e a admiração carimbada ao poeta e jornalista Carlos Drummond de Andrade, estendida à espoliada população itabirana.

Johnny Hooker - O artista, de 34 anos, cujo nome é John Donovan Maia, ficou conhecido com as músicas “Amor marginal” (trilha da novela Babilônia), “Volta” (trilha do filme Tatuagem) e “Alma sebosa” (trilha da novela Geração Brasil), entre outras. Foi vencedor do Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantor na categoria Canção Popular. O primeiro disco, “Eu vou fazer uma macumba prá te amarrar, maldito!”, alcançou o 1º lugar na plataforma de estreaming Deezer, como, também, no chart MPB do iTunes Brasil. O seu estilo artístico se alinha aos personagens do glam rock e declara referência a David Bowie, Madonna e Caetano Veloso.

Nestes tempos de frenético acesso às redes sociais, atingiu 25 milhões de visualizações dos vídeos de suas músicas no Youtube. Em entrevista, disse que “a música sempre puxou a sociedade prá frente, desde o tropicalismo, o samba, Chiquinha Gonzaga; e que as questões da sociedade foram discutidas através da cultura e, não à-toa, eles têm medo da cultura”. Costuma apontar os colegas artistas Glória Groove, Liniker e Pabllo Vittar como “micro revoluções”.

A censura a Johnny Hooker, que faria show dia 9/7, sábado, às 22 horas, na Praça do Areão, vai aprofundar o atrito entre o prefeito Marco Lage e o vice-prefeito Marco Gomes. O Festival de Inverno vai de 25/6 a 17/7e conta com 22 shows na programação.

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