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Solta o pavão do Babulina

“Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque
Eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas
E as armas de Jorge”

- Marineth, há meio século, Jorge Ben, o Babulina, lançou o LP Solta o pavão, que inclui “Jorge da Capadócia”, iniciada com os versos acima. É a música mais identificada do artista com o público. É completada com “Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem/Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem/Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam/E nem mesmo em pensamento eles possam ter para me fazerem mal/Armas de fogo meu corpo não alcançará/Facas e espadas se quebrem sem o meu corpo tocar/Cordas e correntes arrebentem sem o meu corpo amarrar/Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge/Jorge é da Capadócia/Salve Jorge/Salve Jorge!”.

- É verdade, Athaliba. Mas, no disco de 1975, tem “Domingas”, música à qual o compositor e cantor exalta o seu amor pela mulher Domingas Terezinha Inalmo de Menezes. Porém, o laço matrimonial se desfez, após bodas de ouro, a celebração dos 50 anos de casamento, há pouco tempo. Com ela tem os filhos Gabriel (os padrinhos são o cantor Roberto Carlos e a atriz Myriam Rios, à época casados) e Tomaso. Na composição ele diz: “Meu anjo azul, minha luz/Meu mar de rosas/Domingas, minha companheira/Domingas, minha namorada/Você não é Ave-Maria/Mas é cheia de graça/Que maravilha/Pois você é minha, só minha, Domingas”.

Arte da capa do designer Aldo Luiz. | Divulgação. 

- O repertório do disco, Marineth, é completado com “Zagueiro”, “Assim falou Santo Tomaz de Aquino”, “Velhos, flores, criancinhas e cachorros”, “Dorothy” (participação especial de Evinha), “Cuidado com o bulldog”, “Para ouvir no rádio”, “O rei chegou, viva o rei”, “Se segura, malandro”, “Luz polarizada” e “Jesualda”. As canções são autorais. Solta o pavão teve produção e direção de estúdio de Paulinho Tapajós. A arte visual da capa é do designer Aldo Luiz, também autor de outro álbum icônico da artista, A tábua de esmeralda, de 1974. As artes são notáveis por suas referências à alquimia e misticismo. Arte final de Jorge Vianna e fotos de Armando Pittigliani.

- Athaliba, é inquestionável a contribuição de Jorge Duílio Lima Menezes para a MPB. Ele, Jorge Ben, incorporou Jor ao nome artístico. Nasceu em 22/3/1939, no Rio de Janeiro. É filho de Augusto Menezes e da africana da Etiópia, Silvia Ben Lima. Tem um leque de intérpretes de suas músicas: Os mutantes, Tamba trio, Os originais do samba, Sérgio Mendes, Pery Ribeiro, Herb Alpert & Tijuana Brass, José Feliciano, Ella Fitzgerald, Dizzie Gilespie, Moares Moreira, Wilson Simonal, Erasmo Carlos, Júlio Iglesias, Al Jarreau, Trini Lopez, Fred Bongusto, Ana Carolina, Marisa Monte, Leila Pinheiro, Racionais MC, Elis Regina, Ivan Lins, Maria Bethânia, entre outros.

- Tenho, ainda, Marineth, o hábito de ouvir Gil & Jorge: Ogum, Xangô, LP duplo, gravado em 1975. Trata-se de um álbum sublime no universo fonográfico devido o seu experimentalismo e pelo improviso dos dois artistas que interagem entre si em todas as músicas. Destacam-se dentre elas ”Jurubeba”, “Meu glorioso São Cristóvão”, “Sarro” e “Filhos de Gandhi”. E finaliza o repertório as regravações de “Nega”, “Essa é pra tocar no rádio”, “Quem mandou” (Pé na estrada), “Taj Mahal” e “Morre o burro, fica o homem”.

- Athaliba, inesquecível foi a participação do artista, em 1969, no IV Festival Internacional da Canção, defendendo “Charles, anjo 45”. A música está incluída no disco Jorge Ben, junto com ”Criola”, “Cadê Tereza”, “País tropical”, “Domingas”, “Take it easy my brother Charles”, “Quem foi robrou a sopreira de porcelana que a vovó ganhou da baronesa”, “Descobri que eu sou um anjo”, “Bebete vãobora” e “Que pena”. Em 1970 participou do V Festival Internacional da Canção, como autor de “Eu também quero mocotó”, interpretada pelo maestro Erlon Chaves, a Banda Veneno e o Trio Mocotó.

- Marineth, o Jorge Ben, em 2008, foi escolhido o 5º maior artista da história da MPB pela revista Rolling Stone Brasil, que, em 2012, o incluiu na lista de 30 maiores ícones brasileiros da guitarra e do violão. O cantor e compositor Frejat, ex-Barão Vermelho, enaltece o Babulina, pelo estilo único, e diz: “O cara que com seu violão e guitarra suingados me deixam sempre orgulhoso de ser brasileiro”. Alô, Frejat, essa é a opinião da legião de fãs do Jorge Ben! Salve Jorge! Salve!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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