O cidadão de modo geral acompanhou a linha de raciocínio adotada pelo governo do estado de Minas Gerais no ano passado no embate com algumas categorias do funcionalismo público durante as negociações relacionadas à correção salarial, adequação à legislação em torno do piso e até a busca de aumento de salário.
Naquela ocasião, as conversas que deveriam ser breves, sutis e acertadas, se alastraram por um longo período até chegar a um ponto desastroso. Por falta de acordos e entendimento entre as partes vieram as manifestações, paralisações e até greves de trabalhadores.
A resistência por parte do governo em dialogar e reconhecer a legitimidade da luta do funcionalismo levou o diálogo para a casa legislativa, onde quase totalidade dos entes ficaram do lado do serviço público.
Conforme era esperado, a Assembleia Legislativa aprovou um índice de correção divergente da proposta do executivo, o governo resistiu e os trabalhadores continuaram com a defasagem em seus vencimentos.
Durante todo o período de negociação o governo fez questão de dizer que todas as pessoas a serviço do estado de Minas Gerais seriam tratadas de igual maneira em relação ao aumento salarial e que o mesmo percentual de correção seria justo e igualitário para todas as categorias. Disse também que o estado mineiro estava falido e não tinha dinheiro para cobrir qualquer índice de gasto a mais, além daquele que o governo propunha.
As palavras repetitivas do governo em certo momento até foi passível de sensibilização, principalmente de alguns cidadãos que desconhecem como realmente funciona a máquina pública do estado, como os agentes do poder tratam com equidade a colocação do dinheiro público, como estes agentes dão prioridades as questões de maior relevância, como a qualidade nos serviços públicos é prioridade para aqueles que de fato não necessitam destes serviços para sobreviverem.
De maneira semelhante aos servidores públicos, recentemente o governo apresentou uma proposta junto a casa legislativa, pleiteando um pequeno índice de quase trezentos por cento em seu salário e também no salário de seus secretários.
Além disso, de acordo com o governo o aumento se justifica no sentido de atrair e manter os mais competentes no quadro técnico.
Sem dúvida o argumento do governo é bastante coerente, pois no quesito qualidade não pode haver teto, principalmente no serviço público.
Embora o argumento adotado pelo governo mais uma vez ser compreensível esta alegação encontra profundamente em descompasso com aquele narrativa adotada no ano passado quando este mesmo governo negou a conceder ao funcionalismo público um índice que representa próximo de dez por cento do que no momento é considerado justo para o seu próprio salário de seus auxiliares de primeira ordem.
De acordo com o governo, naquela oportunidade durante as negociações, o estado estava falido, os responsáveis pelo funcionamento da máquina deveriam ser tratados de maneira igualitária, o percentual de reajuste deveria ser igual para todos e a legislação seria cumprida, principalmente pelo governador.
Por fim, sem nenhuma demagogia, o exercício de reflexão, partindo de todos os argumentos utilizados pelo governo de Minas Gerais e aquilo praticado por este mesmo governo faz bem para todos nós: será que realmente as regras estão sendo aplicadas de maneira igualitária por todos e para todos? A “atração e qualidade” devem existir apenas na chefia de cada pasta de governo ou deve está voltada para toda prestação direta de serviço?
Governador, “acá”, “prestenção”: “pau que dá em Chico dá em Francisco.” Ô tô enganado?
*Júlio Couto é professor na rede pública de ensino em Minas Gerais, com graduação em Letras pela PUC Minas.
Comentários
Governo controverso e covarde! Quem move a máquina está cada dia menos valorizado.