PF identifica R$ 28,6 milhões em transações suspeitas ligadas a assessores de deputados do PL
Relatório liberado pelo STF sustenta a Operação Galho Fraco e aponta indícios de lavagem de dinheiro
A Polícia Federal (PF) apontou a existência de R$ 28,638 milhões em movimentações financeiras consideradas atípicas, sem explicação compatível, em contas bancárias de assessores dos gabinetes dos deputados Pastor Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ), além de funcionários do Partido Liberal e pessoas do círculo próximo aos parlamentares.
Os dados constam em relatório parcial que teve o sigilo retirado nesta sexta-feira (19) pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do caso. O documento serviu de base para a Operação Galho Fraco, deflagrada hoje pela PF.
Durante as diligências, os agentes apreenderam R$ 430 mil em dinheiro em espécie, guardados em sacos de lixo, em um dos endereços do deputado Pastor Sóstenes Cavalcante, que é líder do PL na Câmara dos Deputados.
Buscas e suspeitas
Nesta sexta-feira, a PF cumpriu sete mandados de busca e apreensão, expedidos pelo STF com autorização da Procuradoria-Geral da República (PGR). As ordens judiciais incluíram buscas pessoais, em veículos e em imóveis vinculados aos dois parlamentares e a outros investigados.
Segundo a investigação, agentes políticos, assessores comissionados e particulares teriam atuado de forma articulada para desviar recursos da cota parlamentar, verba pública destinada a custear despesas dos gabinetes, como contratos de aluguel de veículos. A apuração indica que locadoras de fachada eram utilizadas para simular a prestação de serviços e permitir a posterior ocultação dos valores.
Saques fracionados e indícios de “smurfing”
O relatório da PF destaca que parte relevante das movimentações ocorreu por meio de saques repetidos em valores inferiores a R$ 10 mil, padrão que, segundo os investigadores, sugere a possível adoção da técnica conhecida como “smurfing”, utilizada para dificultar o rastreamento de recursos por órgãos de controle.
Além disso, a PF ressalta que os valores movimentados são incompatíveis com a renda declarada de vários assessores.
O maior volume sob suspeita teria passado pela conta de Adailton Oliveira dos Santos, assessor especial do PL, que movimentou mais de R$ 11,4 milhões entre 2023 e 2024. Para os investigadores, a quantia “não se coaduna com a capacidade econômica do titular, considerando seu vínculo funcional e contexto familiar”.
Outro nome citado é o de Itamar de Souza Santana, secretário parlamentar de Carlos Jordy, que teria movimentado R$ 5,9 milhões. Ele também foi alvo das buscas realizadas nesta sexta-feira.
Conversas e medidas determinadas
A Polícia Federal afirma haver indícios de uso da cota parlamentar para pagamento de despesas inexistentes ou irregulares. O relatório anexou ainda trechos de conversas extraídas do WhatsApp, que indicariam a realização de pagamentos fora dos registros oficiais.
Além das buscas, o ministro Flávio Dino autorizou a quebra dos sigilos bancário, telefônico e telemático dos dois deputados, de outras 12 pessoas físicas e de uma pessoa jurídica. O magistrado também determinou o compartilhamento das informações com a Receita Federal.
Reações
Nas redes sociais, Carlos Jordy criticou a operação e negou irregularidades.
“Hoje, no aniversário da minha filha, a PF fez busca e apreensão novamente na minha casa por determinação de Flávio Dino. Perseguição implacável!”, escreveu o deputado.
Até a publicação desta matéria, o Pastor Sóstenes Cavalcante não havia se manifestado oficialmente.
As investigações seguem em curso no âmbito do Supremo Tribunal Federal.
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