Opinião

O discurso político e a opinião pública

Em meu último texto aqui publicado citei Tom Jobim e sua celebre frase por nós atualizada “o Brasil não é para amadores”, nesse, desejo mostrar como os discursos políticos desconexos com a realidade revelam este fato. 

O discurso político é extremamente necessário para convencer pessoas que convertidos em eleitores possam oferecer seu voto de confiança naquele que o professa. Esse voto pode literalmente transmitir poderes para que, caso tenha convencido maior número de eleitores, o orador seja eleito ao cargo pleiteado. É no discurso político que pode ser compreendido os interesses e pensamentos daquele que postula o cargo público. Por isso é tão importante prestar atenção e compreender o que dizem os candidatos políticos. 

Vamos aqui demonstrar como os discursos disfarçam a realidade com dois exemplos que ocorreram no país durante a pandemia, que não acabou como muitos pensam. 

Durante todo esse período de pandemia, do início até o momento, o presidente Jair Bolsonaro se mostrou contrário a todas as medidas que eram recomendadas por organizações que cuidam da saúde. Instituições como a Organização Mundial da Saúde foram atacadas por integrantes de seu governo e, por ele próprio inúmeras vezes. O Ministério da Saúde ficou inerte, sem ministro ou com aquele escolhido para fazer o que o governo desejava, discursava. Uma CPI foi necessária para que fosse revelado o que realmente aconteceu durante esse período. A imprensa está repleta de falas incentivando uso de medicamentos e ações contrárias aos que eram recomendadas por estes órgãos renomados e mundialmente conhecidos e respeitados. O mundo ia em uma direção e, nosso país e os discursos do presidente em outro. A situação ficou tão estranha (para não usar outra palavra) que integrantes do governo vacinaram escondidos do mesmo. Nas declarações presidenciais a economia não podia parar.  

Por outro lado, João Dória foi contra essa mensagem. Não somente foi contra como criou seu próprio discurso a favor das instituições de saúde. Lógico que ambos estavam procurando se posicionar diante do eleitorado nacional. Porém, ao agir seguindo as recomendações dos institutos de pesquisa e fazer acordos com o governo chinês buscando insumos e produzindo vacinas em seu estado, São Paulo, Dória salvou milhares de vidas no país e, não somente no Estado de São Paulo.

O mesmo aconteceu no Estado de Minas Gerais. O governador Romeu Zema se posicionou agindo como sendo uma réplica de Bolsonaro em Minas. Bolsonaro falava, Zema agia. Quem deveria distribuir as vacinas? Segundo o governo de Minas a obrigação era do governo federal. Não agiu para produzir em Minas as vacinas necessárias. Quem não lembra de sua frase que dizia que o vírus deveria viajar? Seu discurso era o mesmo de seu mentor intelectual/político: a economia não deve parar. Fez de tudo para que as escolas se mantivessem abertas sem vacinar os profissionais da educação. Uma liminar judicial não permitiu. Talvez, Minas poderia ter se tornado outro Estado do Amazonas se seguisse seus pronunciamentos.

Agindo de forma contrária, Alexandre Kalil fechou Belo Horizonte seguindo as recomendações fornecidas pelos pesquisadores da área. Essa ação obrigou os municípios vizinhos a fazerem o mesmo. Foi o primeiro dirigente municipal a oferecer condições das pessoas ficarem em casa ao fornecer uma cesta básica para os mais necessitados. Sua ação salvou vidas. Seu discurso foi o mesmo de Dória e outros dirigentes de Estado e municípios em relação à economia. Ambos enfrentaram protestos, ouviram até mesmo pessoas da imprensa se posicionarem contrários a seus governos. Proprietários de escolas privadas usaram até seus sindicatos contra ambos. 

Mas, agora que a maioria está vacinada, e muitos acham que esse momento pandêmico acabou, as pesquisas de opinião não refletem essa realidade em números: Dória não é o principal adversário de Bolsonaro e Kalil está com índice nas pesquisas de opinião pública para disputa ao governo de Minas abaixo de Zema, atual governador. 

Ambos têm duas difíceis missões: a primeira serem conhecidos fora de seus redutos eleitorais e a segunda através do marketing mostrarem a seus possíveis eleitores que seus atos e discursos estavam corretos no momento de pandemia e salvaram vidas. Irão enfrentar um discurso que diz que a economia está desestabilizada não por incompetência do ministro da economia Paulo Guedes e, sim devidos suas recomendações enquanto governos.  

Agora caberá ao eleitor avaliar qual procedimento lhe beneficiou mais e, qual discurso está mais próximo de sua realidade. Nesse jogo de xadrez não vale amadorismo.

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