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O CASO DA TORNOZELEIRA

Rio de Janeiro - O caso da tentativa de fuga de Jair Bolsonaro de sua mansão, em Brasília, onde ele cumpria prisão domiciliar, foi uma ideia tão engenhosa que até Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo se espantaram de não ter pensado nisso antes.

Muito se tem criticado o ministro do STF, Alexandre de Morais, no episódio da prisão do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, mas, segundo eu apurei, o caso da tornozeleira faz parte de uma grande trama que começou com a visita do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Consegui obter, através de fontes confiáveis, o teor da conversa entre Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro. Foi mais ou menos assim:

Reprodução | IA. 

- Flávio, eu preciso sair dessa maldita prisão domiciliar! Eu não estou aguentando mais isso daê, talquei! É uma cuestão humanitária, talquei. Eu tenho doença do refluxo gastroesofágico; bico de papagaio; esofagite; gastrite; risco de episódios súbitos de obstrução intestinal; dor abdominal intensa; pneumonia bacteriana recorrente; alterações parenquimatosas pulmonares; sinais de congestão pulmonar; pequeno derrame pleural bilateral; soluços incoercíveis; falta de ar; desmaios; hipertensão; doença aterosclerótica do coração e apneia do sono. Nem a Michele aguentou ficar presa comigo dentro dessa casa. Ela só vive na rua, com o maquiador. Sem falar nessa maldita tornozeleira eletrônica. Tenho ouvido vozes vindas de dentro dela. Ontem ela passou o dia todo sussurrando: “Brasileirão Betano…” E essa luzinha piscando, dia e noite, não me deixa dormir. O quarto à noite parece uma boate com essa luz piscando.

- Calma, pai! Já pensei num plano para tirar o senhor daqui - avisou Flávio.

- Você pensou? Sozinho?

- Bom, o Renan deu umas ideias, mas eu achei que furar um túnel até Santa Catarina, além de custar caro aos cofres públicos, ia levar tempo demais.

- E se a gente conseguisse emendas parlamentares? - perguntou Bolsonaro.

- Para furar um túnel!?

- Oxê, a Deputada Federal Júlia Zanatta não conseguiu emendas para os clube de tiros de Santa Catarina!!!

Antes de começar a detalhar seu plano de fuga, Flávio fechou as portas e as janelas da casa. Olhou, desconfiado, embaixo da cama, dentro do microondas e nos armários.

- Preste atenção! Pegue um papel e um lápis. Anote tudo. Nada pode dar errado - avisou, Flávio. - Eu vou postar um vídeo convocando, pelas redes sociais, uma vigília pela sua saúde, pela Democracia e pela “Liberdade do Brasil”.

- Você acha que o gado vai acreditar nisso daê? - perguntou Bolsonaro.

- Claro que vai. Essa gente acredita em qualquer coisa. O evento será marcado para este sábado, às 19h, no Jardim Botânico, na porta do seu condomínio. Já confirmaram presença o Nikolas, o padre Kelmon e o pastor Silas Malafaia. Durante a vigília, no meio da confusão, nós vamos colocar o senhor dentro de um pneu e rolar o senhor, ladeira abaixo, até a Embaixada dos Estados Unidos - explicou o senador.

- Dentro de um pneu!? Esse é o seu plano genial? Não tem outra forma de sair daqui? Carro? Avião? Trem?

- Não. Aqui não tem heliporto, não passa trem e a Polícia Federal está revistando os carros, os porta-malas e até os porta-luvas.

- Mas, e a tornozeleira? A Polícia Federal vai monitorar os meus passos.

- Eu já pensei nisso, também. O senhor vai abrir a tornozeleira na noite da sexta-feira. Use a criatividade. Só não corte a fivela, ou o alarme vai soar na PF.

- Talquei! Tive uma ideia! Vou usar o ferro de solda.

- Ferro de solda!? O senhor já usou um ferro de solda? Onde o senhor aprendeu isto? No Google?

- Não deve ser difícil. Até Lula disse que sabe usar.

- O Lula foi torneiro mecânico, pai!

- E daí? Eu fui um péssimo deputado e dirigi o país.

- E deu no que deu. - sussurrou, Flávio.

Ediel Ribeiro

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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