Frequentemente ouvimos que o processo educacional deve ser algo prazeroso, que o ato de aprender deve acontecer em sintonia perfeita com o prazer. Com isso passamos a acreditar e defender que as aulas devem ser movidas primeiramente pela sensação do bem-estar, do prazer.
Assim, pelo que se manifesta nos corredores das escolas, entre as famílias e a sociedade é que só se torna válido e aceito se as práticas didático-pedagógicas alcançarem a plenitude da satisfação que só o prazer consegue proporcionar. Mas seria justo e coerente pensar e agir dessa forma? O que na vida funciona assim?
Pensemos numa festa, numa comemoração de fim de ano, aniversário ou qualquer outro tipo de encontro entre amigos. Para ficar bacana e agradável primeiramente devemos nos dar o trabalho de preparar tudo com muito zelo e carinho, o que nem sempre é prazeroso. O pós festa requer mais trabalho, que geralmente resume-se na faxina, que também não é nada prazeroso. Todavia, a alegria e o prazer que a festa proporciona supera seus percalços e trabalhos.
Até mesmo o almoço de domingo em família, depois da bonança, das conversas e gargalhadas, das discussões políticas, na maioria das vezes acaloradas, sempre sobra os afazeres da cozinha, a limpeza e demais trabalhos ao anfitrião.
A prática de qualquer esporte também se encaixa nesta reflexão. Geralmente o corpo fica dolorido por algumas horas ou até mesmo dias, às vezes esgotado fisicamente, mas mesmo assim, para quem gosta vale a pena.
Fazer o que gostamos é algo sensacional, que bom seria se tudo aquilo que fizéssemos fosse movido pela sensação do prazer. Seria maravilhoso, mas sabemos que não é assim que funciona na realidade. Como tudo na vida, para alcançar o que queremos às vezes é preciso fazer o necessário; e o necessário nem sempre é prazeroso num primeiro momento. O que é necessário, portanto, o que precisa ser feito em muitos casos é o que causa o prazer.
Enquanto a educação viver envolta dessa falácia nossos estudantes nunca vão querer fazer o que é preciso, mas sim, ficar se escondendo na busca do inatingível prazer. É preciso ter em mente que a educação como qualquer outra atividade humana também se baseia em práticas que proporcionam prazer, mas da mesma forma, envolvem práticas que são necessárias e precisas e que não devemos por isso menospreza-las e tão pouco fugir delas.
O ato de aprender não significa fazer somente aquilo que se quer, da forma que se quer, do jeito que se quer. A educação exige disciplina, horas de dedicação, vontade, zelo, renúncia, privação e prazer. Temos que acreditar que fazer o necessário caminha junto com momentos de prazer. Um não substitui o outro.
O prazer não pode ser uma busca cega e imprudente. Como diria o filósofo Epicuro até mesmo o prazer deve ser almejado de forma racional, caso contrário, pode causar dor e sofrimento. Talvez aí esteja um dos motivos do insucesso da nossa educação.
Walber Gonçalves de Souza* é Graduado em História pelo Centro Universitário Assunção (1999). Especialização (Lato sensu) em Ciências do Ambiente pelo Centro Universitário de Caratinga (2002) e Maçonologia: História e Filosofia (2018) pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Mestrado em Meio Ambiente e Sustentabilidade pelo Centro Universitário de Caratinga (2005). Desde 2002 é professor do Fundação Educacional de Caratinga (FUNEC). Colunista semanal dos Jornais: Diário de Caratinga e Roraima Em Tempo (Boa Vista/RR). Esporadicamente seus artigos são publicados em vários jornais diários do país, entre eles: Estado de Minas; Diário Popular; Diário do Rio Doce. Membro das Academias de Letras de Caratinga (ACL), Teófilo Otoni (ALTO) e Maçônica do Leste de Minas (AMLM). Autor, coautor e organizador de várias obras literárias. Tem experiência na docência de temas ligados à Ciências Humanas. Trabalha com pesquisas voltadas para a Educação, História, Pensamento e Geografia Histórica. Atualmente está cursando o Doutorado em Geografia - Tratamento da Informação Espacial pelo Dinter PUC-Minas/UNEC.
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