Opinião

De traz das grades da prisão, narcotraficante Beira-Mar diz que milícia executou Marielle

A palavra de criminoso é confiável ou não, estimados leitores d’O Folha de Minas? Vocês, por exemplo, acreditam nas declarações de narcotraficante de que a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi executada a tiros por milicianos? Como é que ele, preso em presídio de segurança máxima, condenado por mais de 200 anos, faz tal afirmação de maneira tão categórica? Será que prevalece a regra que condenados, organizados em facções criminosas, mandam nas cadeias, deterioradas, abarrotadas por quase 750 mil presos e infectadas por múltiplas doenças? Por que o poder público não anula o poder paralelo do crime organizado no sistema penitenciário?

Com expressão facial de serenidade, o narcotraficante Luis Fernando da Costa, conhecido nacionalmente pelo vulgo de Fernandinho Beira-Mar, um dos principais chefões da organização criminosa Comando Vermelho, disse que foram milicianos que assassinaram Marielle Franco e o motorista dela, Anderson Gomes, numa emboscada no bairro do Estácio. A afirmação ocorreu na entrevista exibida há cerca de duas semanas por um canal de TV, à qual asseverou: “Tenho 100% de certeza de que o crime foi cometido por milicianos”. No entendimento dele, a vereadora foi executada a tiros (desfiguraram o rosto da vítima) por enfrentar e denunciar crimes de grupos de milicianos integrados por policiais corruptos e ex-policiais que dominam morros, favelas e até alguns bairros do Rio de Janeiro.

Beira-Mar, líder da facção criminosa Comando Vermelho, garante que a vereadora Marielle Franco foi executada a tiros por milicianos (Repodução)

Para o narcotraficante, “qualquer autoridade que começar a mostrar quem é a milícia vai acontecer o que aconteceu com a Marielle”. Fernandinho Beira-Mar disse que “a milícia trabalha com policiais corruptos, que recebem do Estado. Então a milícia está se expandido porque eles estão vendo que é uma forma de combater o crime organizado. Então o Estado está lavando as mãos”. A investigação sobre a morte de Marielle se arrasta há mais de um ano e foram presos, sob a acusação de executores, o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiróz. Mas quem mandou matar a vereadora Marielle Franco?

O narcotraficante que já foi remanejado sete vezes de presídios de segurança máxima, que tem no currículo de crimes o assassinato de Michel dos Santos, esquartejado vivo, por ter se envolvido sentimentalmente com Joelma, ex-namorada dele, disparou contra o ex-governador Sérgio Cabral, chamando-o de “pilantra”. Cabral cumpre pena no Complexo Penitenciário de Bangu e, por sua vez, em depoimento ao Ministério Público, relatou o pagamento de propina de R$ 200 mil ao ex-procurador-geral de Justiça Cláudio Lopes para “ajudá-lo na campanha para o comando do Ministério Público do Rio de Janeiro, em 2009, e mesada de R$ 150 mil para proteção total a mim e aos meus”. Entre as vantagens recebidas, Cabral teve arquivado a investigação sobre a festa em Paris, conhecida como “a farra dos guardanapos”.

Bem, leitores d’O Folha de Minas, Fernandinho Beira-Mar revelou que antes de ir para a prisão, teve contatos com muitos políticos. Disse ele que “foram diversos, desde vereador a governador de Estado; e não vou citar nomes, são tantos; tantos canalhas. Diversos amigos (os comparsas) nossos tiveram contato com Cabral. Ele entrou em diversas comunidades, durante as campanhas eleitorais. Era considerado o paladino da justiça e veja onde ele está agora”.

As declarações do narcotraficante têm credibilidade ou não?

 

LENIN NOVAES* é jornalista e produtor cultural. Co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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