Comemorando 80 anos, tendo na bagagem farta obra literária e musical, Nei Lopes brinda os admiradores, enfim, o público em geral, com seu mais novo livro: Academia de letras. O título da publicação é imponderado, à leitura daqueles que já mergulharam de cabeça em alguns dos mais de 40 alfarrábios de sua autoria. Ou ainda, também, da legião de fãs que cultuam suas consagradas músicas na voz, por exemplo, de Gilberto Gil, Milton Nascimento, Ed Motta, Djavan e João Bôsco. Mas, o título, é uma homenagem à escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, à qual o escritor e compositor tem laços desde o início da década de 1960. Como eu, salgueirense.
Academia de letras, da Editora Contracorrente, com 500 páginas, organizado por Marcus Fernando, contém cerca de 350 letras de músicas de autoria de Nei Lopes, além de outras tantas com diversos parceiros, como Wilson Moreira, Ivan Lins e Zé Renato. O autor revela que “todas estão acompanhadas de glossário (fundamental pela vasta utilização de termos nem sempre usual) e contextualização (como, quando e porquê foi escrita; quem é ou foi parceiro e quem gravou), além de informações importantes, tanto pelo aspecto histórico quanto fonográfico”. O lançamento aconteceu dia 8/10, na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor, Centro do Rio de Janeiro.
O jornalista Tárik de Souza, que apresenta o livro, diz que “este portentoso Academia de letras insere Nei Lopes - em definitivo, se ainda havia dúvidas - entre os maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Nessa compilação de sua obra (até aqui), entre gravadas e inéditas, conjugam-se qualidade, quantidade e diversidade estética, atributos reservados a poucos e raros. Além de esmiuçar as próprias composições, Nei exercita generosamente os dotes de enciclopedista e abre comportas para um conhecimento mais aprofundado de sua obra e os caminhos percorridos por sua imaginação, estudos e sabedoria na forja de cada tema”.
Acrescenta que “ não apenas no campo vasto e pouco desvendado dos povos e culturas africanas e suas palavras transpostas para o uso corrente brasileiro, mas, também, na geografia dos bairros e logradouros cariocas, cultivando a alma encantadora das ruas. Se promove ainda um inventário sobre culinária, vestuário e comportamento e prospecta origens e implicações de cada termo empregado, Academia de letras fornece, ao mesmo tempo, uma compassada (e nada indulgente) autobiografia do compositor. Acertos e tropeços, desavenças e acolhimentos, e a devoção religiosa que o fez superar percalços como a perda de um filho pequeno. Rigoroso na utilização do cinzel de poeta, conjugado ao bisturi do causídico, bacharel em Direito, ele se revela um esgrimista de ironia cortante, mas, igualmente apto a comover em remansos de lirismo”.
Carioca de Irajá, subúrbio do Rio de Janeiro, nascido em 9/5 de 1942, Nei Lopes é formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Publicou poemas nos jornais Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã, Jornal do Comércio e na Revista Civilização Brasileira. Na discografia consta Tem gente bamba na roda de samba, A arte negra de Wilson Moreira e Nei Lopes, Negro mesmo, O partido muito alto de Wilson Moreira e Nei Lopes, Zumbi 300 anos, Sincopando o breque, De letra e música, Celebração Nei Lopes 60 anos, Partido ao Cubo, Estava faltando você (participação de Nilze Carvalho), Chutando o balde e participação no Baú da Dona Ivone.
É autor dos seguintes livros: Afro-Brasil reluzente, Agora serve o coração, O preto que falava lídiche, Dicionário da História Social do Samba, Dicionário da Hinterlândia Carioca, História e cultura africana e afro brasileira, Dicionário da antiguidade africana, Mandingas da mulata velha na cidade nova, O racismo explicado aos meus filhos, Kitábu, o livro do saber e do espírito negro-africanos, Partido-alto, samba de bamba, Enciclopédia brasileira da diáspora africana, Zé Kéti, Sambeabá: o samba que não se aprende na esola, Logunedé: santo menino que velho respeita, Guimbaustrilho e outros mistérios suburbanos, Novo dicionário banto do Brasil, 171 – Lapa-Irajá: casos e enredos do samba, Incursões sobre a pele: poemas, Casos crioulos, O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical, 20 contos e uns trocados, A lua triste descamba, Esta árvore dourada que supomos, entre outros.
Ao celebrar seus 80 anos, Nei Lopes disse que “o que tenho feito pode ser uma linha de atuação. Eu coloco toda a minha força vital no que me conforta e engradece meu espírito, e que acho que pode se constituir em um legado”. Entre homenagens e premiações recebidas acumula os títulos de Doutor Honoris causa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Doutor Honoris causa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Doutor Honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Doutor Honoris causa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Medalha da Ordem de Rio Branco.
Vida longa, meu amigo e camarada Nei Lopes!
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