São Paulo – Há quem ainda pense que cultura geek é privilégio de quem mora nos centros e pode pagar caro por ingressos e colecionáveis. A PerifaCon, que acontece neste fim de semana (25 e 26 de outubro) na Fábrica de Cultura Jardim São Luís, em São Paulo, existe justamente para provar o contrário.

A feira — gratuita e organizada por artistas e produtores da quebrada — mistura HQs, games, cosplay, debates e empreendedorismo em um mesmo espaço, onde a periferia não é convidada: é protagonista.

O evento desafia uma lógica antiga que ainda insiste em associar “nerd” a um perfil padrão e distante da realidade das bordas da cidade. A cultura pop é, afinal, cultura. E cultura se faz onde há gente criando, consumindo e se reconhecendo.

O poder simbólico de ocupar espaços

A diretora criativa Andresa Delgado tem razão quando diz que há um preconceito duplo: com a periferia e com o universo geek. Mas é justamente dessa mistura improvável — de sabedoria de rua com referências de cinema, anime e quadrinhos — que nasce algo novo e genuíno.

A PerifaCon não é apenas uma feira de cultura pop. É uma afirmação política e estética. Um lembrete de que jovens periféricos também podem criar jogos, roteiros, podcasts, HQs e startups. E que o acesso à imaginação e à tecnologia não deve ser um luxo.

Enquanto grandes eventos cobram caro por experiências “imersivas”, a PerifaCon oferece pertencimento real — gratuito, diverso e construído de forma coletiva.

Cultura é política

Quando Andresa fala que “é preciso convencer quem paga a conta”, ela toca em um ponto central: a cultura periférica ainda precisa justificar sua existência. Mesmo depois de cinco edições e de gerar mais de mil empregos diretos, o evento ainda luta por reconhecimento institucional e financiamento público à altura de sua relevância social.

É um retrato fiel do país — onde a arte que nasce longe das avenidas centrais é vista como exceção, quando na verdade deveria ser a regra.

Um espelho de muitos mundos

Quem passar pela Fábrica de Cultura neste fim de semana vai ver de tudo: Naruto ao lado de Sabotage, Homem-Aranha grafitado ao lado de Zeca Pagodinho, e uma juventude que entende que a quebrada também pode ser multiverso.

Essa mistura é o futuro. A PerifaCon mostra que a cultura não tem fronteiras — e que o Brasil é muito maior do que o que cabe nos salões da Paulista.

Fábrica de Cultura Jardim São Luís — Rua Antônio Ramos Rosa, 651, São Paulo (SP)
25 e 26 de outubro | Entrada gratuita
Programação completa: perifacon.com.br