Coluna

À deriva rumo ao abismo

- Marineth, o Brasil está à deriva rumo ao abismo, como venho te alertando. E ocê teimosa, não me escuta, não me ouve, simula ignorar. Incrivelmente, desde o início da colonização, depois de mais de 500 anos, o país continua amargando a falta de um projeto político que possibilite seu crescimento econômico com desenvolvimento social. Por isso, diante de desmandos e mazelas, com avassaladoras corrupções, nesse perverso sistema, em prejuízo de boas condições de vida da esmagadora maioria da população, clamo e luto pelo poder popular no Brasil. Precisamos mudar, radicalmente, essa situação. Basta de tantas desgraças e infortúnios à pátria amada!

- Athaliba, que se passa? Por que tamanha amargura? Onde está a tua sutil irreverência, a afabilidade que tanto me encanta e seduz? Cadê o bom humor? Desabafa. Sou teu ouvido.

- Marineth, a minha indignação beira o limite da razão, da tolerância. A revelação feita pelo senador Major Olímpio na entrevista ao Brasil de Fato é estarrecedora. Antes aliado do mito pés de barro que ocupa o trono da Presidência do Brasil, ele afirmou que se sentia desesperado cada vez que o mito, candidato, participava dos debates eleitorais, em 2018. “Era um desespero nosso 
- diz o senador -, cada dia uma agonia, era isso mesmo. Ele (o mito) não se preocupava em se preparar. Para disputar uma eleição presidencial você precisa apresentar um projeto do que você quer fazer para o país. Terminou a eleição e nós não tínhamos um projeto para o país”. É ou não, amiga, motivo suficiente para extravasar indignação?

- Compreendo tua repulsa, Athaliba. E vejo que muitos dos eleitores que cravaram o voto no mito pés de barro estão arrependidos, decepcionados, frustrados. Vivem em pesadelo!

- Phorra, Marineth. Não é prá menos. Quantas pessoas caíram no conto do vigário? Essa é a realidade do nosso atraso. O Brasil afunda numa crise absurda nessa pandemia do COVID-19 e está cada vez mais desacreditado no exterior. A postura do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na fatídica reunião ministerial de 22 de abril, de “ir passando a boiada”, sustenta a ideia de que a nossa pátria amada é vista no mundo, pejorativamente, como “uma república de bananas”.

- Athaliba, ocê precisa voltar à cachoeira de Boa Vista, em Itabira, para fazer catarse. Relembre em https://ofolhademinas.com.br/materia/31488/coluna/sereia-da-cachoeira-boa-vista.

Antes aliados, o senador Olímpio (PSL), major aposentado da PM de SP, trava briga de cachorro grande com o presidente Bolsonaro, ex-capitão do Exército. Recomenda-se distância para evitar hidrofobia.

- Gracias, Marineth. Mas o trem é doido. O Sérgio Olímpio Gomes, que se aposentou na Polícia Militar, ao se eleger deputado estadual por São Paulo, em 2006, bateu duro no mito. Ele revelou estar “desiludido com a política pelo que estou vendo acontecer; também fui enganado, não imaginava esse super esquema do Queiróz, por trás da estrutura da família; eu realmente não imaginava”.

- Athaliba, o major aposentado defende o armamento do “cidadão de bem”. É autor de uma publicação que ensina a manusear armas. Ele tem base política entre policiais militares.

- Sim, Marineth. O senador contou que rompeu com o mito pés de barro após discussão sobre retirada do nome dele em pedido de CPI. E de agressões verbais com o Flávio (senador, filho do mito), que disse “todas as impropriedades e palavrões possíveis às senadoras do PSL Selma Arruda (cassada) e Soraya Thronicke”.

- Palavrões, Athaliba, faz parte do “cardápio linguístico do mito pés de barro”.

- Marineth, o senador Olímpio afirmou com todas as letras que “agora me afastei de vez, com os escândalos do Queiróz e do Gabinete do Ódio, que são pessoas que vivem para promover agressões contra qualquer um que possa manifestar discordância do presidente”. Disse que “essa questão moral do presidente com o Queiróz está ficando cada vez mais claro, que ele era um tesoureiro de quatro gabinetes, do presidente e seus familiares, coordenando um caixa geral que toma dinheiro de funcionários”.

- Athaliba, tô abismada! Isso é briga de cachorro grande, né?

- Não tenha dúvida, Marineth. O major aposentado da PM disse que “ainda no princípio da investigação achava que era uma conduta apenas do Flávio, mas não. Isso é crime de peculato, é extorsão de funcionário, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e organização criminosa, isso é uma coisa que desilude e desanima”.

- Athaliba, deixa essa questão de lado, temporariamente. Minha amiga Doralice gostou da indicação de ocê ser padrinho do “bebê” Coronopikos e adorou o apelido de Cacetaurus dado ao travesseiro pai do rebento. Ela pede, agora, sugestão de apelido para o travesseiro robusto.

- Marineth, ainda sob esse contexto político nebuloso, diga a ela para sussurrar Britakus ao travesseiro quando estiver em delírio agarrada a ele. Gostou do apelido?

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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