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MEDO DE AVIÃO

PEXELS

Rio de Janeiro - Tenho viajado muito, mas morro de medo de avião. 

É uma das minhas neuroses. 

Além da aerofobia, tenho outras: claustofobia, medo de lugar fechado; acrofobia, medo de altura; aracnofobia, medo de aranha; odontofobia, medo de dentista; ailurofobia, medo de gatos; nictofobia, medo de escuro; iatrofobia, medo de médico; triscaidecafobia, o medo do número 13 e até a parascavedecatriafobia que é o medo específico da sexta-feira 13.

Mas a pior delas, para mim, é mesmo de medo de avião. Aliás, não tenho medo de avião. Tenho medo do piloto.

Fico pensando, e se meu voo estiver marcado justo para o dia em que o piloto descobre que sua mulher está lhe traindo? E, ao invés de se vingar dela, resolve se vingar da humanidade.

O estresse começa no embarque. Quando o painel eletrônico anuncia um atraso, eu já penso: pronto o avião caiu.

Na fila, o gordo na sua frente carrega uma mala quase do tamanho da aeronave. Aí você já fica rezando para não sentar ao lado dele.

Os piores momentos - exceto a queda, claro - são o pouso e a decolagem. São os momentos em que você acha que o coração vai sair pela boca. Nessa hora, mesmo sendo ateu, você reza, ora , medita...

Outro dia, quando o avião decolou uma senhora sentada ao meu lado benzeu-se diversas vezes. Quando o avião finalmente se acertou ela olhou para mim e surpresa perguntou: o senhor não reza? Não tem mêdo?

Respondi: a senhora já rezou. Acho que a área de proteção inclui o meu assento.

As companhias aéreas também não ajudam. Porque elas se preocupam tanto com os espaços entre os bancos, e constroem corredores tão estreitos? Fico pensando no caso de acidente, todo mundo querendo sair as presas do avião. Os que não morrerem da queda, morrem pisoteados. 

E quanto ao lanche que eles servem a bordo? Acho que eles esperam que já estejam todos mortos de fome quando o avião cair. Evitaria a dor.

Outro momento de pânico é quando a tripulação pede a sua atenção para informar coisas que ao invés de te acalmar, te deixam mais nervoso ainda:

“Senhores passageiros, sua atenção, por favor. Essa aeronave possui 8 saídas de emergência, quatro nas portas, duas nas janelas sobre as asas e duas na cabine.”

Aí você já imagina que pela quantidade de saídas de emergência é bem provável que eles estejam esperando que aconteça algum acidente. 

“No caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio caíram automaticamente de seus compartimentos sobre suas cabeças.” Puxe as máscara coloque sobre o rosto e respire normalmente.”

Porque eles acham que vai faltar ar? O que eles estão esperando? Como eu vou respirar normalmente com o avião caindo? 

“Em caso de pouso forçado na água, os coletes salva-vidas ficam embaixo de seus assentos. Os assentos de suas poltronas são flutuantes.”

Eu não quero flutuar, nem nadar. Ou teria vindo de navio.

Outro aviso que não ajuda em nada:

“Senhores passageiros, aqui é o comandante Souza. Dentro de alguns segundos vamos atravessar uma área de turbulência. Continuem sentados e mantenham os cintos afivelados.”

Você fica sem saber se a tal “turbulência” será só uma sacudidela ou se o avião vai cair. E enquanto a turbulência não acontece, você fica mais nervoso que um paciente esperando o resultado do teste para a Covid-19. Começa a olhar para cima para ver se as máscaras já estão caindo, passa a mão embaixo do assento para se certificar que o salva-vidas está lá mesmo e olha para os lados procurando as tais “saídas de emergência”. 

E, claro,  reza para que o gordo não esteja sentado bem em frente a sua.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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