“Em time que está ganhando não se mexe”. O jargão futebolístico, ainda que antigo, serve para explicar a estratégia usada por Jair Bolsonaro para tentar se manter no poder.
Jair Bolsonaro passou 30 anos na vida pública sem fazer nada. O ex-deputado federal, em quase três décadas na Câmara dos Deputados só teve aprovadas duas leis de sua autoria. Ambas, insignificantes.
Duvido que um “bolsomínion” se lembre delas. Nem ele lembra.
O capitão foi deputado federal por sete mandatos entre 1991 e 2018, sendo eleito através de diferentes partidos ao longo de sua carreira.
A estratégia era ficar pulando de legenda em legenda, antes que o partido percebesse que ele era uma figura decorativa na Câmara dos Deputados.
Assim, ele pretende se perpetuar na presidência do país. Já está em campanha para 2020.
Mas a Presidência da República é diferente de um mandato na Câmara dos Deputados. Para se eleger deputado você só precisa de umas centenas de votos. Diferente da Presidência que são milhares.
Bolsonaro aproveitou-se da desilusão do povo brasileiro com à esquerda - principalmente com o Partido dos Trabalhadores e com Lula - e elegeu-se como principal nome da direita radical.
Na verdade, Bolsonaro nunca quis ser presidente. “Não quero perder essa vida boa na Câmara, talkey!?”, teria dito para o filho Carluxo. “Aqui tem cafezinho, água gelada, “rachadinha”, o salário é bom e eu posso passar o dia cochilando, talkey!”
Mas, numa reunião secreta no “Condomínio Vivenda das Milícias”, no Rio, Bolsonaro foi convencido pelos filhos Zero Um, Zero Dois e Zero Três, de que, na presidência também não precisaria fazer nada. Era só escolher os Ministros certos e eles tocariam o país. “Até a Dilma conseguiu!”, teria dito o Zero Dois.
"E depois, se nada der certo, é só botar a culpa no Lula, no PT, nas ONGs, na Greta, no Leonardo Di Caprio, no INPE, no dólar, no Paulo Freire, nos veganos, no Coronavírus, na imprensa ou nos direitos humanos", disse o Zero Um.
Assim, Bolsonaro aceitou a empreitada.
“Chamem o Queiroz! Vamos escolher o meu Ministério!”, gritou o capitão.
Foi aí que a coisa começou a desandar. A escolha do time parece até um plano de desgoverno.
Bolsonaro escolheu para o Ministério da Economia, Paulo Guedes, um ex-banqueiro co-fundador do BTG Pactual, o principal banco de investimentos do Brasil.
Para o Ministério da Educação, escolheu Ricardo Vélez Rodriguez, um professor colombiano que mal falava português.
Pouco tempo depois, Velez caiu. Indicado pelo ideólogo do governo, o astrólogo Olavo de Carvalho, veio Abraham Weintraub, um professor formado no curso on-line de filosofia de Olavo e que odeia universidade pública.
Nomeou o ruralista Marcelo Augusto Xavier da Silva para presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). Órgão responsável por proteger a floresta e os índios.
Escolheu a pastora evangélica e antifeminista, Damares Alves para elaborar programas para as mulheres no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.
À frente do Ministério da Cultura, hoje reduzido a uma secretaria, colocou o dramaturgo Roberto Alvim, fã de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista.
Demitido, Alvim deu lugar a atriz Regina Duarte que deve R$319,6 mil por irregularidades com a Lei Rouanet.
Ainda na área da cultura, a secretária de audiovisual nunca trabalhou no setor e acha que a secretaria deve trabalhar pelos “bons costumes”. Filmes com temas eróticos, nem pensar.
Já a Fundação Nacional Palmares, órgão criado para preservar os valores e promover a cultura afro-brasileira é dirigida por alguém que acredita que o movimento negro deveria ser “extinto”.
Mas as trapalhadas não param por aí, depois de criar o “Dia do Rodeio” na mesma data do “Dia Mundial dos Animais” e propor o fim das cotas para deficientes no “Dia do Deficiente”, a equipe do governo, dizem, pretende instalar o “Dia Nacional da Ku Klux Klan", no dia dedicado a Zumbi.
Assim, o time que deveria trabalhar, enquanto Bolsonaro dormia, está tirando o sono do presidente.
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