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O PASQUIM E A CENSURA, DE ONTEM E DE HOJE

Rio - “O Pasquim” faz 50 anos e ganha homenagens e exposições em São Paulo. 

Aqui no Rio, onde ele nasceu, cresceu e fez enorme sucesso, nem um “parabéns pra você!”

A cultura no Brasil está agonizando, mas, aqui no Rio de Janeiro, parece que já morreu. 

o pasquim
reprodução

Desde que Jair Bolsonaro, por ignorância do que seja cultura - o presidente nunca abriu um livro em toda a sua vida -  reduziu o Ministério da Cultura  a uma subpasta e a subordinou - pasmem -  ao Ministério do Turismo, nada de relevante acontece na área da cultura nacional.

No Rio de Janeiro - onde, por causa de um beijo entre dois jovens, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) mandou recolher o gibi “Vingadores”, à venda na Bienal Internacional do Livro e o governador Wilson Witzel (PSC) já ordenou o fechamento de exposições (Literatura Exposta) e proibiu performances de artistas que fariam referência à Ditadura Militar no Brasil (És uma Maluca), entre outras ações contra a cultura -, “O Pasquim” , que foi um dos maiores ícones da cultura carioca, símbolo do jeito carioca de ser, da malandragem e do espírito carioca, não mereceu da Prefeitura ou do Estado, nenhuma homenagem. 

A história do maior jornal brasileiro de humor e resistência a censura e “a patota", formada por  jornalistas, cartunistas e intelectuais - cariocas de nascimento ou honorários - como Tarso de Castro, Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Sérgio Cabral (o pai), Chico Buarque, Ivan Lessa, Paulo Francis, Nani, Vinícius de Moraes, Glauber Rocha, Odete Lara, Carlos Prósperi, Sérgio Augusto, Henfil, Fortuna, Marta Alencar, Olga Savary, Reinaldo Figueiredo, Cacá Diegues, Miguel Paiva, Carlos Leonam, entre tantos outros, foram esquecidas pelos responsáveis pela cultura na cidade maravilhosa. 

o pasquim
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No entanto, em São Paulo, onde “O Pasquim” se consolidou no cenário nacional - na cidade de Piracicaba - o 46º Salão Internacional de Humor de Piracicaba deste ano, reuniu, além da sua mostra principal, a mostra “Pasquim 50 Anos”, aberta no Armazém 9 do Engenho Central, com material organizado pelo cartunista Alcy Linares, uma exposição paralela em homenagem aos 50 anos do jornaleco de Ipanema. 

Na capital paulista, desde o dia 19 de novembro, o Sesc Ipiranga, vem recebendo a exposição "O Pasquim 50 anos", que também comemora o aniversário de meio século da primeira edição do jornal carioca fundado em 1969. 

Com curadoria de Zélio Alves Pinto e Fernando Coelho dos Santos, a exposição está sendo realizada em conjunto com o lançamento da página do jornal na plataforma digital da Biblioteca Nacional, que disponibilizará todas as edições do periódico para pesquisa. 

Não se podia esperar nada melhor de um governo onde o presidente lidera um boicote a um veículo de comunicação (“Folha de São Paulo”) por uma questão pessoal.

E onde as áreas de cultura estão entregues a políticos que são verdadeiras nulidades e figuras de utilidade duvidosa que, além de não serem da área, ocupam seu tempo achincalhando os produtores de cultura, degradando as instituições e usando-as como cabide de emprego. 

Parabéns, “Pasquim”! 

Com ou sem censura. 

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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