Opinião

Intromissão à soberania da Venezuela

Nicolás Maduro resiste à tentativa de golpe que diz ser osquestrada pelos EUA (Foto: Carlos Jasso)
Nicolás Maduro resiste à tentativa de golpe que diz ser osquestrada pelos EUA (Foto: Carlos Jasso)

Estimados compatriotas: como será o dia de amanhã? Responda que puder!

Se já é impossível, dentro de normalidade acertar um prognóstico, imaginem, atualmente, num cenário político internacional conturbado. Principalmente na América Latina, no nosso continente pátria. A maioria dos meios de comunicação no Brasil, oligopólios nas mãos de poucas famílias e sustentados pelo sistema financeiro e verbas públicas dão ênfase às tentativas de golpe na Venezuela. Manchetes garrafais destacam as opiniões do empresário Donald Trump, presidente dos EUA, e do ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro, presidente do Brasil; entre outros mandatários conservadores.

O compatriota medianamente organizado, engajado num lado ou em outro, sabe que essa posição dos jornais e TVs (concessões estatal), trata-se de interferência à soberania da Venezuela. Não cabe à mídia julgar inválida a eleição de Nocolás Maduro e, através de enxurrada de notícias, incompatibilizá-lo com os brasileiros. A questão é exclusiva dos venezuelanos. A situação lembra-me o saudoso jornalista João Saldanha que chamou minha atenção para o fato de encabeçar a comissão de campanha de uma das chapas que disputava as eleições do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro. Disse-me:

- “Você, jornalista, deve lutar pela comunicação correta levada para o cidadão, que é direito consagrado do leitor. Os metalúrgicos saberão definir o próprio destino e à maneira deles”.

O atual contexto me remete à lembrança do colega de redação e de atividades políticas e sindicais, principalmente como integrantes da diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.

A autoproclamação de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela criou distúrbios que abalam os alicerces institucionais, resultando em mortos e pessoas presas. A situação pode se agravar de forma profunda, levando-se em conta os interesses comerciais e políticos externos, principalmente do capital estrangeiro, procurando se favorecer das atuais circunstâncias.

O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, em declaração transmitida pela TV, afirmou que “aqueles que propiciam essa figura de um governo de fato paralelo são muito perigosos. Nós, homens e mulheres de uniforme, seríamos indignos de usar nossa farda se não defendêssemos nossa Constituição e a soberania”, garantindo que não será aceito um presidente imposto.

Denunciou que opositores e o governo dos EUA tinham orquestrado plano para depor o sucessor de Hugo Chávez, “há muito tempo preparando um vulgar golpe de Estado”. Vladimir diz que os opositores violaram a Constituição e que se posicionou em defesa do presidente eleito Nicolás Maduro, dizendo que “a sustentabilidade jurídica usada para juramentar um governo de fato não tem destino feliz e é preciso evitar uma guerra entre venezuelanos”.

Para integrantes da Força Amada Nacional Bolivariana, “o governo dos EUA, junto a outros da região (América Latina) e representantes de organismos multilaterais, está desenvolvendo o amplamente conhecido roteiro de derrubar projetos progressistas que sejam incômodos às suas ambições imperialistas”.

Sem aprofundar a questão dos EUA em utilizar de todos os meios para tentar manter a sua supremacia armamentista e econômica, num sistema capitalista selvagem, precisamos mergulhar de cabeça nos graves problemas que afligem a população brasileira. Vamos dar conta das coisas nossas. No nosso sistema de estado democrático os direitos são usurpados.

A mídia noticia que o deputado federal reeleito Jean Wyllys (PSOL-RJ), por ter recebido várias ameaças de morte, não assumirá o novo mandato e deixará o Brasil. Ele vive sob escolta policial desde o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, em março do ano passado. O brutal assassinato da parlamentar, que teve a cabeça desfigurada pelos tiros, ainda não foi desvendado. E, em entrevista, Jean Wyllys justificou a atitude com base em informações que familiares de ex-PM suspeito de chefiar a milícia investigada pela morte de Marielle trabalharam para o senador eleito Flávio Bolsonaro durante seu mandato como deputado estadual pelo Rio de Janeiro.

“Me apavora saber que o filho do presidente contratou a esposa e a mãe do sicário. E o presidente Bolsonaro sempre me difamou, me insultou de maneira aberta, sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim".

A decisão de abrir mão do cargo foi respaldada pelo PSOL. Segundo Wyllys, o partido reconheceu que ele se tornou "alvo". Seu correligionário Marcelo Freixo, eleito deputado federal, afirmou, no Twitter, que a escolha do parlamentar de deixar o Brasil é sintoma "deste tempo sombrio em que o ódio tomou a política".

É, compatriotas, o nosso estado democrático nunca garantiu direitos, literalmente. O que fazer?

 

LENIN NOVAES* é jornalista e produtor cultural. Co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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