Coluna

O fazendeiro e o jegue

Viviam em uma região onde a colheita era farta, alguns sitiantes que tinham juntos mais de 100 mil cabeças de animais. A vida era tranquila, todos viviam muito bem e amavam habitar aquele lugar, até que um dia, em busca de melhorias, decidiram criar uma cooperativa para industrializar a colheita e tratar da exportação, cuidar da saúde do rebanho e melhorar a genética dos animais. Queriam também eliminar os atravessadores que ficavam com quase toda a riqueza produzida naquele lugar.

Então, reuniram-se e depois de muita discussão propuseram que os interessados a presidir a cooperativa montassem um projeto com as suas ideias e trouxesse para ser aprovado pelos demais sitiantes. O dono das melhores propostas seria eleito para administrar os bens dos demais. Então um dos sitiantes, homem honrado, inteligente e muito honesto, trouxe à presença dos demais um projeto que iria resolver todos os problemas que existiam. Propunha expandir a produção e tinha como principal proposta combater os atravessadores. O projeto desse sitiante trazia soluções para todos os problemas que enfrentava a região, então, vendo os demais que aquele sitiante tinha a resposta para tudo que eles precisavam o elegeram e concederam a ele autoridade para administrar todos os seus bens, decidir sobre a exportação, agricultura, cultivo e manejo da terra e principalmente sobre o rebanho, que era mais de 100 mil cabeças.

O fazendeiro eleito era proprietário de um jegue, que vivia preso em um curral na encosta de uma serra, de onde nunca havia saído. Mesmo assim os confinantes desse sitiante que conheciam o jegue o temiam e sentiam-se incomodados com os seus urros. Por ser um jegue grande e desengonçado foi apelidado pelos confinantes de Jeguerão.

Depois de eleito o administrador da região decidiu soltar o jegue para que ele pudesse aproveitar a pastagem nas margens das estradas e viver com um pouco mais de liberdade. Sentindo-se solto, livre e protegido o jegue começou a circular por toda a região e não ficou apenas nos trilhos, pulava as cercas, porteiras e mata-burros. Ninguém podia mais conter o jegue. Invadia as propriedades dos outros sitiantes, expulsava todo macho que tinha no sítio e se apossava das fêmeas, saltava as cercas, invadia os quintais e deixava por onde passava um rastro de destruição.

Insatisfeitos com o jegue do fazendeiro-administrador, os sitiantes decidiram reunir e prestar queixa. O fazendeiro justificou que tinha soltado o jegue apenas para pastar às margens da estrada. Acreditava que ele iria comer os matos das margens e contribuir com a limpeza das estradas, pois ele toda vida esteve preso e foi sempre muito manso. Então, prometeu a todos que iria recolher o jegue novamente para o curral e garantiu que ele nunca mais iria perturbar os vizinhos.

O que o fazendeiro não sabia era que depois que Jeguerão descobriu a força que tinha, ele nunca mais respeitaria as velhas réguas do curral onde toda vida foi preso. Daí o fazendeiro prendia o jegue e ele saltava, invadia os sítios e tornava um inferno a vida dos sitiantes. Depois de constantes reclamações o fazendeiro admitiu que ele não tinha mais poder sobre o jegue, que depois que foi solto uma vez nunca mais aceitou a prisão. Em pouco tempo havia filhos do jegue por todos os lados.

Assim, os sitiantes tiveram que conviver por muitos e muitos anos ouvindo urros do jegue que infestou a região. Mas aprenderam a lição, que para eleger uma pessoa não basta boas propostas é preciso saber se ele não é proprietário de um jegue valente.

Geraldo Ribeiro (MG)

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