Coluna

Orixás na Imperatriz

“Ofereça pra Exú… um ebó pra proteger

Penitência de Exú, não se deixa arrefecer

Ele rompe o silêncio com a sua gargalhada

É cancela fechada, é o fardo de dever”

- Athaliba, a musa da Imperatriz Leopldinense, Rafa Kalimann, ex-BBB (Big Brother Brasil) não cantou a quadra acima do samba-enredo da escola e o caso viralizou nas redes sociais. Ela, evangélica, foi flagrada muda, na apresentação da agremiação, em evento na Cidade do Samba, por ocasião da comemoração do Dia Nacional do Samba. Internautas não perdoaram. Meteram o pau. Em 2025, a escola exibirá Ómi tútú ao olúfon - Água fresca para o senhor de Ifón. É a lenda de Oxalá, que sai do reino, Ifón, pra visitar Xangô. E, no percurso, faz oferendas pra Exú.

- Marineth, ainda bem que o silêncio da Rafa foi registrado. E trouxe à discussão assunto relevante, que fica às vezes à surdina, à boca pequena.  No universo do samba tem crescido o número de evangélicos, capitaneados pela IURD - Igreja Universal do Reino de Deus. Isso vem gerando atritos em núcleos familiares, pois a igreja proíbe os adeptos de cultuar a manifestação cultural popular. Pura repreensão. Mas, quem é o carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense?

- Athaliba, antes de divulgar o carnavalesco é preciso dizer como a musa se explicou. Ela, mineira de Campina Verde, se chama Rafaella Freitas Ferreira de Castro Mattaus. É missionária, modelo e comunicadora digital. Na entrevista a Fernanda Paes Leme e Gio Ewbank disse crer em Deus e que “nem é questão de religião, pois já fui a várias”. Descontraída, revelou ter perdido a virgindade aos 13 anos e, aos 15, foi morar com o namorado, também modelo, que a traiu.

A musa Rafa, evangélica, será vigiada pelo público se vai cantar ou não a quadra do samba que cita Exú. Foto Diego Reis

- Marineth, à parte o lado íntimo da Rafa, o fato dela não cantar aquela quadra do samba acende sinal de alerta no setor de Harmonia da escola. É no quesito Harmonia, durante o desfile, que ocorrem falhas. Pois, além da questão religiosa a ela relacionada, como de outros foliões, têm os que não sabem cantar o samba. São foliões improvisados que têm o direito de desfilar ao comprar fantasias em shoppings. São os penetras, rotulados “alemães no samba”. Absurdo!

- Athaliba, a Rafa vai estar sob vigilância no sambódromo. E, se não cantar a quadra do samba que cita Exú, receberá uníssonas vaias. Para dar um basta à questão, ela disse que “o que aparece nos vídeos em apenas um trecho da minha participação, na Cidade do Samba, acabou sendo entendido como verdade absoluta”. E se queixou: “Mais uma vez sou alvo de ofensas a partir de um recorte que não mostra quem eu sou; sou cristã e minha fé me ensina a importância de coexistir com diversas religiões”.

- Marineth, afinal quem é o carnavalesco da Imperatriz?

- Saiba, antes, Athaliba, que os autores do samba-enredo são Thiago Meiners, Miguel da Imperatriz, Me Leva, Jorge Arthur, Wilson Mineiro e Daniel Paixão. O cantor é Pitty de Menezes. O carnavalesco é Leandro Vieira, notabilizado com estreia no sambódromo ao conquistar o título de campeão pela Mangueira, em 2016, com o enredo A menina dos olhos de Oyá, homenagem à cantora baiana Maria Bethânia.

- Sei quem é, Marineth. Ele é formado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Em 2014 se destacou como assistente da Imperatriz e da Grande Rio. Ganhou dois prêmios no Troféu Plumas e Paetês Cultural. Foi campeão pela Mangueira, com o enredo História pra ninar gente grande, no ano de 2019. Também campeão, em 2023, pela Imperatriz, com o tema O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida. Lembra?

- Athaliba, a Imperatriz, atual vice-campeã do Grupo Especial, será a 2ª escola a desfilar, domingo, 2/3, à busca do 10º título. O carnavalesco considera um ”desafio particular” a realização do enredo. Dentro da temática, colocada à prova, o que fez próximo disso foi na escola Império Serrano, em 2022, com o enredo Mangangá, campeão do Grupo de Acesso. Também no enredo que homenageou Maria Bethânia. Portanto, o enredo vai colocar todo o mundo de olho nele, né?

- Marineth, no desfile da Imperatriz, o negócio será deixar “a fumaça entrar na sala”, como indica o samba “Deixa a fumaça entrar”, do Martinho da Vila e Laudeni Casemiro, o saudoso Beto Sem Braço. É o que sugiro. Vou seguir a escola da concentração à dispersão, no sambódromo, torcendo por Geraldo Portela, que não é portelense. E, amiga, salve os orixás, na Imperatriz!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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