Rio de Janeiro - A boemia carioca e, principalmente, Santa Teresa, perdeu hoje um de seus ícones. Foi para o andar de cima, Diógenes Paixão, proprietário do icônico ‘Bar do Mineiro’, em Santa Teresa.
Mineiro de Carangola (MG), Diógenes, que tinha 84 anos, formava com Samuca, dono do ‘Bar do Samuca’ e Arnaldo Gomes de Souza, proprietário do ‘Bar do Arnaldo’, a Santíssima Trindade da boemia de Santa Teresa.
Diógenes, por sinal, era o último remanescente da turma.
O menino teve uma infância difícil. Filho de um cabo da polícia e uma doméstica, vendeu lenha na rua para sobreviver. Foi também escriturário, tipógrafo, trabalhou em oficina mecânica, fábrica de tecido e foi funcionário do Banco do Brasil.
Diógenes era uma pessoa extremamente criativa. Foi marchand e era o maior colecionador das obras do pintor Alfredo Volpi, no Rio de Janeiro, especialmente da série "Bandeirinhas".
Apaixonado por arte, transformou o ‘Bar do Mineiro’ - antigo ‘Bar da Rosa’ - em uma galeria de arte no coração de Santa Teresa.
Era amigo de grandes nomes como o pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi, o artista plástico, arquiteto e paisagista Burle Marx e o escultor Zé Andrade.
Conheci o Bar do Mineiro levado pelo cartunista Ykenga. Saíamos da redação do jornal ‘O Povo’ e subíamos pelas ruas de Santa Tereza até o Bar do Samuca (ou Barmácia, como o gozador Samuca chamava o próprio boteco).
O boteco era tão pequeno que só tinha uma mesa. Mas a freguesia era boa. Passaram por lá Ziraldo, Jaguar e outros cartunistas que, a pedido do Samuca, deixavam suas artes nas paredes do pé-sujo. Fiz para o Samuca uma caricatura dele num corpo de papagaio.
Quando o Bar do Samuca estava fechado, nós íamos para o Bar do Mineiro.
Frequentar o Bar do Mineiro é como frequentar uma galeria de arte. O salão com seus azulejos brancos serve de fundo para obras de vários artistas, entre desenhos, caricaturas, cartazes e obras do pintor ítalo–brasileiro Alfredo Volpi, de quem foi amigo por mais de 20 anos.
O cardápio é outra atração da casa. A feijoada é o carro-chefe. Foi, inclusive, citada no livro da Louis Vuitton sobre o Rio. É servida aos sábados, domingos e feriados e é feita tanto na versão light (com carnes magras) quanto na tradicional. Vem repleta de carnes e acompanhada de arroz, farofa, torresmo, e couve refogada.
O prato venceu os prêmios ‘Comer e Beber’, da revista Veja em 2023 e ‘Prazer da Mesa’, de 2024. Para petiscar, recomendo demais o pastel de feijão, ou tutu à mineira com couve e o queijo com doce de leite.
Fundado em 1989, por suas mesas passaram Quincy Jones, Jaguar, Ykenga, Moacyr Luz, Washington Olivetto e Zé Andrade entre outros.
Numa dependência criada por ele, contígua ao bar, Diógenes montou o ‘Mineiro Up’, onde, além de fazer shows, alugava para festas e exibia toda a sua mineiridade no jeito de cozinhar, servir e prosear, em um ambiente com as paredes cheias das muitas lembranças que colecionou ao longo da vida.
O céu deve estar em festa.
*O Bar do Mineiro fica na Rua Paschoal Carlos Magno, 99, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
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