Rio de Janeiro - Ontem, a convite do jornal ‘O Folha de Minas’, fui visitar a Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
A Bienal é uma senhora de 40 anos. Completados esse ano. Mais ainda enxuta, bonita, elegante e inteligente. Outra senhora que soprou velinhas, ontem, na Bienal, foi Mônica, a personagem dentuça do cartunista Maurício de Souza.
Maurício de Souza, 83 anos, esteve lá para comemorar com a criançada o niver da Mônica e da Feira Literária. O mais premiado autor brasileiro de quadrinhos falou sobre seu trabalho e suas influências. O cartunista foi homenageado com um painel de 210m² no Pavilhão de Artes, na entrada da Bienal do Livro. O mural estampa os personagens mais famosos da Turma da Mônica utilizando técnicas de lambe-lambe. Há ainda uma intervenção em estêncil da artista urbana Simone Siss. Mauricio de Sousa assinou a obra na abertura da Bienal.
“Eu criei para durar. E para durar, o personagem tem que falar a língua da criançada”, disse Maurício de Sousa, sobre suas criações.
A Bienal Internacional do Livro de 2023, que começou nesta sexta-feira (1/9) no Riocentro, no ano de sua edição comemorativa de 40 anos, foi declarada pela prefeitura do Rio de Janeiro, Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial – a publicação foi feita no Diário Oficial.
Nesses 40 anos a Bienal amadureceu e cresceu. Hoje é um evento gigantesco. Até 10 de setembro, mais de 300 atrações, entre brasileiros e estrangeiros, vão passar pelo evento que espera público de 600 mil pessoas.
Encontros como esse com Mauricio de Souza fazem parte da história da Bienal do Livro do Rio. Desde as primeiras edições, o contato de escritores com o público se mostrou um caminho para formação de novos leitores. Já passaram pela Bienal do Rio de Janeiro figuras como Ziraldo, Jorge Amado, Zélia Gattai (estiveram na Bienal de 1995), Paulo Coelho (foi uma das estrelas da edição de 1999), José Saramago (veio logo após a conquista do Prêmio Nobel), Tom Wolfe e muitos outros.
A importância da Bienal, abrange perspectivas histórica, cultural e social, tanto para o Rio de Janeiro como para o país. A história começou em 1983, no hotel Copacabana Palace, como uma simples feira de livros organizada pelo SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros). Desde então, foram 20 edições e 40 anos de encontros entre livros, livreiros, autores e leitores.
O período histórico coberto por essas quatro décadas de realização da Bienal Internacional do Rio de Janeiro revela tempos de enorme transformação no Brasil: o fim do governo militar e redemocratização do país, os planos econômicos e as trocas de moeda, a ampliação da telefonia e a febre do celular, a modernização das formas de fazer e vender livros, a abertura de mercado para produtos importados, o surgimento do e-book, entre muitos outros marcos de definição do cotidiano. A Bienal foi um espelho para tudo isso.
Desde a festa no Copacabana Palace com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, a tentativa de censura a um HQ, feita pelo prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), candidato apoiado diretamente pelo presidente Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro e a reação da sociedade contra a homofobia, a mudança do perfil de público com a tomada da Bienal pelos jovens (quem disse mesmo que jovem não lê?), o discurso de abertura da ministra Carmem Lúcia a favor da democracia.
Grandes e inesquecíveis momentos que transformaram a Bienal num marco literário para o Rio de Janeiro, num dos maiores eventos da cidade, um patrimônio cultural para o carioca. Uma caixa de ressonância do melhor do Brasil.
A Bienal do Livro atravessou um governo que odiava os livros e a cultura. É isso, nem o bolsonarismo conseguiu acabar com a festa do livro.
Parabéns a Bienal do Livro do Rio de Janeiro!
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