Rio de Janeiro - Os mais jovem - com certeza - nunca ouviram falar; mas a coluna social foi, em sua época, o que é hoje as redes sociais: uma verdadeira mania.
Cada jornal tinha a sua. O Dia tinha a sua. O Jornal do Brasil tinha a sua. A Folha de São Paulo tnha a sua... Mas nenhuma alcançou a notoriedade da de Ibrahim Sued.
Sued (Deus, ao contrário) foi um jornalista e colunista social amado e odiado por muito. Tido por alguns, como arrogante, fanfarrão e dado a rompantes, criou o moderno colunismo social.
Filho de imigrantes árabes, Ibrahim nasceu em 23 de junho de 1924, numa família muito pobre, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Na juventude, morou em muitas pensões baratas em Copacabana.
Ibrahim começou no jornalismo, como fotógrafo, rondando pelas redações de jornais, fazendo frila. Inclusive em uma onde eu trabalhei, no jornal O Municipal.
E foi num desses plantões que Ibrahim adquiriu grande projeção como fotógrafo. Enviado para fotografar a visita ao Brasil, do famoso general americano Eisenhower, o jovem fotógrafo fez a foto que o tiraria do anonimato: captou o momento em que o político líder da UDN, Otávio Mangabeira, fez um gesto dando a impressão de beijar a mão de Einsehower.
A foto deu um bafafá daqueles. Muitos críticos utilizaram a imagem para combater o chamado “servilismo” brasileiro em relação aos Estados Unidos.
A partir de então, seu status como fotógrafo cresceu e ele foi convidado a trabalhar com o jornalista Joel Silveira na revista Diretrizes e assim mergulhou de cabeça no mundo da sociedade carioca, passando a frequentar as festas do Copacabana Palace.
Homem de poucos estudos, vivia em conflito com a língua portuguesa - ele não conseguia dominá-la e assumia isso. O humorista Stanislaw Ponte Preta, seu amigo, dizia: "O Ibrahim é a ignorância mais bem paga do país".
Entretanto, o pai do moderno colunismo social brasileiro tinha licença poética para criar palavras e expressões que entraram para o vocabulário popular.
Ficaram famosos bordões como “Sorry, periferia”, “Ademã que eu vou em frente”, “De leve”, “Olho vivo que cavalo não desce escada” e, o mais famoso: “Os cães ladram e a caravana passa” - ditado árabe que ele se apropriou.
Ibrahim costumava se auto-intitular “imortal sem fardão”, ironizando o fato de nunca ter sido convidado para membro da Academia Brasileira de Letras.
Muito elegante, simpático e bom de conversa, começou a participar das rodas boêmias juntamente com Carlinhos Niemeyer, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), Baby Pignatari, Jorginho Guinle e Heleno de Freitas, entre outros; chegando inclusive a fundar com eles o famosos “Clube dos Cafajestes”.
Por essa época começou a dar pequenas notas na seção Vozes da Cidade no jornal Tribuna da Imprensa, do polêmico jornalista e político Carlos Lacerda.
Inspirado nos famosos colunistas americanos, passou a escrever notas políticas e comentários sobre a vida de pessoas da alta sociedade carioca que ele conhecia muito bem. Ibrahim também passou a eleger as dez mais belas mulheres, as dez mais elegantes e as dez melhores anfitriãs da sociedade carioca.
Pouco tempo depois, começou a fazer sua primeira coluna social na revista Manchete. Com o sucesso da coluna na revista da família Bloch, Sued foi contratado pelo jornal O Globo. Durante os 41 anos em que a sua coluna foi publicada no O Globo (de 1954 a 1995), havia na redação um jornalista encarregado de revisar e tornar apresentável o texto de sua coluna.
Durante cinco anos, o hoje escritor de novelas, Aguinaldo Silva, em sua fase inicial de jornalista, foi um dos escalados para a tarefa de torná-la legível e engraçada.
Ainda assim, nenhuma sílaba nova era publicada sem antes consultar o filólogo Antonio Houaiss, autor do famoso dicionário.
Ibrahim Sued morreu em 1 de outubro de 1995, aos 72 anos, no Rio de Janeiro.
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