São Paulo - Santo de casa não faz milagres.
O antigo ditado popular cai bem com a história do semanário 'Pasquim', criado no Rio de Janeiro, por um bando de porras-loucas.
Parece que foi ontem que o jornal - um projeto dos jornalistas e boêmios Tarso de Castro, Sérgio Cabral e do cartunista Jaguar - nasceu.
Era junho de 1969 - em plena Ditadura Militar (1964-1985). Sufocado pela repressão sem limites do AI-5, "O Pasquim" ( depois, “Pasquim”, sem o artigo) surgiu com seu ar cômico e irreverente, desafiando os preceitos morais da elite carioca e debochando da ditadura.
Recentemente, o "Pasquim" fez 50 anos. No Rio, ninguém lembrou do jornaleco - tão importante para a cultura, a arte, a política e o humor carioca.
Mas São Paulo, onde ele cresceu, lembrou.
O paulistano montou, recentemente - com curadoria de Zélio Alves Pinto e Fernando Coelho Santos - a exposição "O Pasquim 50 anos" - uma grande exposição em homenagem aos 50 anos d'O Pasquim, no Sesc-Ipiranga, em São Paulo.
Antes, (em 25 de outubro de 2014) o paulistano já havia homenageado o jornal carioca dando seu nome a um bar: 'O Pasquim Bar & Prosa'.
Fincado na badalada esquina da Rua Aspicuelta, 524 com a Fradique Coutinho, na Vila Madalena, o boteco com coração e alma paulistana, mas com sotaque carioca foi inspirado no semanário alternativo carioca, famoso por criticar a ditadura militar no Brasil.
No Rio de Janeiro, berço do jornaleco, não tem nenhum boteco com o nome do jornal. Não que eu saiba. Então, pegamos a estrada e fomos, eu e a Sheila, conhecer o boteco paulistano.
O Pasquim Bar é - como o jornal homônimo - todo ilustrado. As paredes são cobertas de fotos, capas históricas, cartuns, quadrinhos e até o cardápio é uma obra de arte, ilustrada pelo saudoso Paulo Caruso. O bar só perde para o ‘Les 4 Cats', um boteco de Barcelona, na Espanha, que se dá ao luxo de ter um cardápio desenhado por Picasso.
A inspiração com o semanário carioca se mostra clara em tudo, especialmente no cardápio, uma publicação trimestral da casa chamado de "Il Pasquino", que é ilustrada como um jornal e oferece dicas sobre a agenda cultural da cidade além de, é claro, apresentar as opções de comidas e bebidas da casa.
O bar celebra a amizade, a boemia e a boa prosa ao redor da mesa. São várias as opções de drinks e petiscos no cardápio. Opções essas que têm nomes muito criativos, como o ‘Filé Pasquim’ (Milanesa de carne com queijo gratinado, cebola caramelizada e molho melado) e o sanduíche “Senhor Genin” (uma homenagem ao cartunista Genin?) que leva pão português crocante sem miolo, peito de frango grelhado com queijo muçarela derretido, acompanhado de batatas fritas.
Os drinks especiais fazem alusão às gírias criadas pelo jornal como “Putz Grila”, “Duca” e “Mifu”. O “Gip Gip”, do Ivan Lessa, batiza uma caipirinha com caju, limão-siciliano e maracujá; e até o ratinho Sig - criado pelo Jaguar - e seu famoso gesto (Top, Top, Top), dão nomes as criativas caipirinhas da casa.
Outra atração do cardápio, são as receitas exclusivas de Gin Tônica que levam nomes de figuras da MPB como o “João GINberto), “PixinGINha”, “GINicius de Moraes”, “GonzaGINha”, “DcháVan”, “Nara Limão”, “Noel Prosa”, “Bebeu Gomes” e o impagável “Tom MÉ”.
O bar conta com ambiente bastante agradável formado por seu jardim vertical que somado ao seu teto retrátil dão aos frequentadores a sensação de estar ao ar livre. Sua iluminação indireta, as paredes de cerâmica e os antigos ventiladores de aço dão ao lugar a aparência dos botecos cariocas. Grandes nomes da MPB são homenageados em um enorme painel, no fundo do bar, desenhado pelo cartunista Paulo Caruso. Os uniformes e os coletes dos garçons fazem referência ao cartunista Ziraldo, outra estrela do ‘Pasquim’.
Em 2022, a marca ampliou seus espaços na capital paulista e inaugurou duas novas unidades: uma no emblemático bairro da Casa Verde, na Zona Norte, próximo ao Anhembi, e outra no Mercado Municipal de São Paulo, um dos pontos turísticos mais icônicos da cidade.
Vale a pena conhecer ‘O Pasquim’.
O bar e o jornal.
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