Coluna

KENARD, COM FÉ, ESPERANÇA E AMOR

“Não se deixem de mim.” (Kenard Kruel)

Rio de Janeiro - O câncer, com o perdão do pleonasmo, foi cruel com Kruel.

Perdemos na tarde desta quinta-feira (11), aos 63 anos, vítima de complicações de um tumor na garganta, o jornalista, poeta e escritor Kenard Kruel Fagundes.

Kenard foi um dos grandes amigos que fiz nas redes sociais. Conheci-o quando ele me convidou para participar do livro ‘Filosofia para o Enem’, que ele estava editando. Nunca estive com ele, pessoalmente. Nos falávamos quase todos os dias, pela internet. Ele, várias vezes, me convidou para visitar a sua querida ‘Ilha Kenardiana', em Tutóia (MA) e para participar do Salão de Humor do Piauí, que pretendia reabrir.

Não deu tempo.

Kruel era fã e divulgador da obra e da vida do poeta piauiense, Torquato Neto. Antes mesmo de lançar “Torquato Neto ou a Carne seca é Servida”, a biografia definitiva do poeta, ele me mandou um exemplar, ainda em fase de revisão, onde escreveu: “Ediel, este foi feito à mão, especialmente para você, grato por tudo, Kenard”.

O livro ganhou o “Concurso Literário - Prêmio Mário Faustino”, do governo do Estado do Piauí e da Fundação Cultural do Piauí, em 2000.

O jornalista nasceu em São Luís, no Estado do Maranhão, em 1959 e passou a adolescência em Parnaíba, litoral do Piauí. Ele se mudou para Teresina no final da década de 70 , aos 18 anos.

Divulgação - 

Era jornalista, poeta, escritor e produtor cultural. Trabalhou nos jornais ‘O Estado’, ‘O Dia’, ‘Jornal do Piauí’, ‘Jornal da Manhã’, ‘Correio do Piauí’, ‘Folha do Litoral’ e ‘O Norte’. Criou os mimeografados ‘O Cobaia’ e ‘Batalha do Estudante’, no Colégio Estadual Lima Rebelo, de onde foi expulso.

Kenard desenvolveu um grande trabalho na imprensa e na cultura piauiense. Criou a Fundação Nacional do Humor e, em 1981, junto com os amigos Albert Piauhy e José Elias Arêa, o ‘Salão Internacional de Humor do Piauí’.

O salão, gerado nas mesas do ‘Bar da Tia Ana’, no centro de Teresina, onde os amigos davam as caras, certamente, foi a maior contribuição do jornalista para o humor nacional. Durou 30 anos. O primeiro Salão aconteceu efetivamente em 1982. A última edição, em 2013. O salão chegou a ganhar, entre outros, o prêmio HQMix de melhor salão de humor do Brasil.

O jornalista era um incansável agitador cultural. Não parava. “O Kenard Kruel é um louco!”, disse o jornalista, cartunista e produtor cultural Albert Nunes de Carvalho, o Albert Piauhy, confessadamente seu melhor amigo, com quem criou o Salão do Piauí, que trouxe para Teresina nomes como Angeli, Agner, Borjalo, Biratan Porto, Clériston, Chico e Paulo Caruso, Claudio Oliveira, Cláudio Paiva, Duayer, Dil Márcio, Edgar Vasques, Érico Junqueira, Glauco, Jayme Leão, Jaguar, Jorge Salles, Jô Oliveira, Lailson, Laerte, Lapi, Lor, Lan, Mino, Millôr Fernandes, Mariano, Marcia Z. Braga, Nani, Otto, Reinaldo Figueiredo, Sinfrônio, Zé Andrade, Ziraldo, Zélio e o cartunista cubano Ares, entre outros.

Kenard foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Piauí (Sindjor-PI). É bacharel em direito, licenciado em Letras, Português e Inglês e membro da Academia Parnaibana de Letras.

Atualmente, integrava o Departamento de Cultura e Eventos da Prefeitura de Teresina. Além disso, tinha grande atuação na imprensa, na literatura e na cultura piauiense.

O jornalista maranhense escreveu obras, como: “Torquato Neto ou a Carne seca é Servida” (2001); “Gonçalo Cavalcanti - o intelectual e sua época” (2005); “Djalma Veloso - o político e sua época” (2006) e “O. G. Rêgo de Carvalho - Fortuna Crítica” (2007).

O irmão do jornalista, Gervásio Santos, destacou o legado que o jornalista deixou para o jornalismo e a cultura do Piauí. Kenard participou ativamente de projetos culturais, jornais, suplementos, revistas, livros, shows, manifestos, seminários, congressos, encontros, salões e debates nos setores artístico e cultural. Gervásio ressaltou ainda que Kenard sempre cultivou amizades. "Ele tinha milhares de amigos. O que podia fazer pelos outros, ele fazia", lembrou.

A jornalista Angela Ferry que trabalhou com o Kenard no jornal “O Dia”, lamenta e diz que Kenard foi e sempre será uma referência no jornalismo piauiense :

“Um desafiador do coro dos contentes que deu uma grande contribuição, seja à frente do Sindicato, buscando o reconhecimento da categoria, seja nas redações, com sua postura que descontentava muitos, mas que sempre tinha o objetivo de enaltecer a profissão de jornalista e a cultura desse Estado. Foi amigo de seus amigos, incomodou os "inimigos" e deixou aqui o seu legado. Espero mesmo que no outro lado da cortina que agora está, Kenard esteja bem”.

Kenard estava internado no hospital São Marcos e tratava complicações de um câncer na garganta. O quadro de saúde dele se agravou nos últimos dias.

O jornalista deixa 5 filhos. E muita saudade.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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