Coluna

MAURICIO DE SOUZA NA ABL

Eu aprendi a ler, lendo quadrinhos.

Muitas crianças, no país, também. Só isso, já justificaria a presença de um dos maiores - se não o maior - criadores de histórias em quadrinhos na Associação Brasileira de Letras. 

Então, ter um quadrinista como Mauricio de Souza na ABL é uma questão de justiça e reconhecimento, como mostra o texto abaixo, escrito pelo cartunista José Alberto Lovetro, o JAL, Presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil - ACB:

Mauricio de Sousa na ABL é o sonho de muitos brasileiros

Está nas mãos da Academia Brasileira de Letras valorizar o autor infantil que mais contribui com o estímulo à leitura na infância

O primeiro homem das cavernas que inventou a ilustração foi um gênio. Fez sequências de desenhos nas paredes da caverna, a linguagem dos quadrinhos, para criar a primeira biblioteca no mundo. Naquele tempo, foi mais que para ser lido como diversão, mais básico para salvar a vida de pequenas crianças que perdiam os pais cedo e ficavam como um peso a mais para o grupo porque não produziam e só consumiam os poucos mantimentos que eram a sobrevivência da comunidade. Então, aprenderam como caçar um antílope ou como manter o fogo controlado, ou como cuidar de doenças. Muitas destas imagens permanecem até hoje para evidenciar que uma das linguagens da comunicação mais remotas foi o desenho.

Esta linguagem, ainda hoje, é moderna e passou por toda a humanidade ilesa em sua importância. Depois, quando foram criadas as letras, a escrita foi incorporada aos quadrinhos para difundir a leitura em conjunto com as imagens. E esta junção ganhou milhões de crianças e jovens que viram ali um estímulo à leitura e aos sonhos de aventuras. Aliás, um livro infantil sem grandes desenhos não é um livro infantil. Evidencia que o estímulo à leitura passa diretamente pelo casamento com a imagem da ilustração. Não é tese, é realidade pura.

Cai por terra a teoria de que quadrinhos não são literatura, os personagens estão lá, as histórias, as aventuras, o prazer de ler. E é caminho para que as crianças leiam livros em seguida. Porque é assim que acontece. E para os que dizem que a criança está abandonando a leitura impressa também cai por terra porque a venda de quadrinhos é das maiores no Brasil. Sem ela teríamos menos leitores de livros. O futuro chegou e temos que pensar se queremos ficar imaginando ou agindo para não perdê-los.

Reconhecer então um autor como Mauricio de Sousa, que consegue manter leitores por mais de 60 anos com a mesma força de sempre, é um ganho substancial que a Academia Brasileira de Letras pode ter para fortalecimento em sua preservação da memória nacional dos autores e difusão da leitura.

Nós, desenhistas de todo o país, apoiamos a candidatura de Mauricio de Sousa para a cadeira número oito da Academia Brasileira de Letras, não como apenas representante de nossa classe de desenhistas, mas como uma importante mostra da ABL ao Brasil de que quadrinhos são, sim, literatura e estímulo à leitura. Criam milhões de leitores de livros.

Fica aqui o desafio aos descrentes desta verdade: basta perguntar para uma criança se ela gostaria que o Mauricio estivesse entre os imortais da Academia Brasileira de Letras.

Na última pesquisa "Retratos da Leitura", do Instituto Pró Livro, Mauricio ficou em quarto lugar entre todos os escritores do país como o mais querido. 

Se quisermos ouvir crianças falarem da ABL com conhecimento e valorização, o momento é este. Já há uma dívida em não ter havido este reconhecimento quando da candidatura de outro grande valor nesta área, o Ziraldo, nosso eterno Menino Maluquinho, que também é desenhista, escritor e autor de quadrinhos. Não há mais como esperar porque o tempo nos cobra pensar nas crianças para pensarmos no mundo que queremos para elas. E isso passa pelo prazer que a leitura representa e que as leva a sonhar.

Que os acadêmicos pensem no futuro de autores que virão por este ato do dia 27 de abril próximo. Pode ser histórico e um momento realmente imortal.

José Alberto Lovetro
Presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil - ACB

 

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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