Coluna

Saga de Lampião na Imperatriz

- Athaliba, a trajetória de Lampião e seus cangaceiros estarão representados no desfile de Carnaval no sambódromo, em fantasias e alegorias simbólicas à época da atuação do bando no nordeste. A façanha é explorada pela Imperatriz Leopoldinense, no enredo O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida. O alicerce do tema está nos cordéis “A chegada de Lampião no inferno” e “O grande debate que teve Lampião com São Pedro”, de José Pacheco; “A chegada de Lampião no céu”, de Rodolfo Coelho Cavalcante; e “Lampião e Padre Cícero num debate inteligente”, de Moreira de Acopiara.

- Marineth, a vida de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi intensa no período de 1922 a 1938, culminando com o assassinato dele numa embosca em Sergipe. Pernambucano de Serra Talhada, nascido em 7/7 de 1897, terceiro filho de José Ferreira dos Santos e Maria Lopes. Sabia ler e escrever. E trabalhou como almocreve, com pai, conduzindo caravanas puxadas por burros que levava mercadorias pelo interior do nordeste. A sua vida mudou com as desavenças entre a família dele e a de José Alves de Barro, o Zé Saturnino, numa disputa por terras. Vindita pura!

A saga de Lampião será descrita com fantasias e alegorias simbólicas do cangaço que agitou o Brasil entre as décadas de 1920 e 1930. (Divulgação) 

- Athaliba, a pesquisa do tema para o desfile da Imperatriz é do Leandro Vieira, figurinista e carnavalesco, formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro. E, do elogiado enredo Na minha mão é mais barato, na Caprichosos de Pilares, em 2015, ele pulou para a Mangueira. Lá, a proeza foi desenvolver o enredo A menina dos olhos de Oyá, em homenagem à cantora Maria Bethânia. O desfile deu título à escola, que jejuava por 13 anos, sem vencer o Carnaval. A agremiação ganhou o Estandarte de Ouro como melhor escola e, Leandro, de quebra, faturou o troféu Estandarte de Ouro, como revelação. Rapaz de talento!

- Marineth, ainda sobre Lampião, o vulgo deriva de atirar com rapidez e o disparo iluminar a noite. Ele se engajou no bando de cangaceiros de Sinhô Pereira, que lhe ensinou as artimanhas de sobrevivências e como escapar das armadilhas policiais. Assumiu o controle do bando após Sinhô abandonar o cangaço, em 1922, ano do centenário da Independência do Brasil. Criou uma rede de coiteiros, saqueou ricas propriedades rurais de abastados fazendeiros. Até resgate para devolver itens que roubava exigia. Enfrentou as tropas volantes - forças policiais -, sendo figura admirada pela população pobre da região. O grande amor da vida dele foi Maria Bonita.

- Athaliba, antes que eu explane mais detalhes do tema que o Leandro contextualizará, por favor, conte-me sobre o amor entre Lampião e Maria Bonita. Ah, o amor, que brota das vísceras!

- Marineth, existe casos de romance entre bandido e mocinha. Nos anos de 1980, Maria de Paula, filha do vice-governador Francisco Amaral, apaixonou-se pelo delituoso Meio-quilo, Paulo Roberto de Moura Lima, um dos lideres da facção criminosa Comando Vermelho. Bem, Lampião conheceu Maria Gomes de Oliveira, filha de um coiteiro, casada, nas andanças dele pelo sertão. Em 1930, ela abandonou o marido e seguiu o cangaceiro, sendo a primeira mulher a fazer parte do cangaço. O casal teve uma filha, Expedita Ferreira Nunes, em 1932.

- Que história fascinante, Athaliba. Soube que em Itabira do Mato Dentro, cidade mineira do saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade, uma mulher disse prá outra mulher que ocê era bandido perigoso do Rio. Que buscava abrigar-se, homiziar-se por lá. O golpe baixo desferido de uma à outra buscando lhe caluniar foi “aplicado” por pitiatismo ou profunda crise de ciúme?

- Marineth, não vamos entrar no mérito dessa questão. Para concluir o caso Lampião, na data de 28/7 de 1938, ele foi alcaguetado e emboscado na Fazenda Angicos, por tropas volantes. O líder do cangaço foi morto com três tiros e teve a cabeça decapitada e exibida como troféu por diferentes locais. Espalharam-se outras hipotéticas versões sobre sua morte. Tornou-se lendário, com trajetória recheada de casos anfibológicos.

- Athaliba, existe a expectativa que, no desfile, o cenário do assassinato do cangaceiro seja reproduzido, como um dos principais fatos marcantes relacionados à vida dele. A Maria Bonita também deverá ser peça chave para enriquecer o tema da escola. Enfim, que das arquibancadas o público possa compreender a saga de Lampião, de cabo a rabo, como aula de História.

- Marineth, a Imperatriz pode surpreender geral. Sempre desfila com muita garra, Lembro-me dos tempos da gestão Amaury Jório, em que frequentava a escola com os saudosos amigos jornalistas Jorge Elias de Barros Sobrinho e Aroldo Bonifácio, o Seu Tenente, na época do jornal Correio da Manhã. Bom desfile à agremiação suburbana, saudando o ritmista Geraldo Portela.

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

Comentários


  • 10-02-2023 21:41:25 Julio Oliveira

    Lênin, Como sempre um trato especial em cada crônica, agora tratamento do Samba enredo de uma escola que trata de um personagem da história brasileira. Esta crônica está fantástica Parabéns Camarada Lênin!