Coluna

O MANDRIÃO

bolsonaro
Divulgação - 

As trapalhadas de Bolsonaro têm sido perpetradas tão depressa nos últimos dias que os jornalistas que escrevem humor não tem mais tempo para criar uma piada nova.

A paródia de hoje já virou a tragédia de amanhã, e o leitor fica sem saber se ri ou se chora.           

Prova disso é o número de vezes em que pensei em escrever uma coluna sobre alguma de suas trapalhadas naquele dia e tive de abandonar o assunto porque, horas depois, ele cometeu outra. 

Para nós, cronistas que escrevemos para jornais impressos, ficou impossível acompanhar as trapalhadas do presidente. Bolsonaro é um trapalhão full-time, e somente os jornais online e as redes sociais conseguem acompanhá-lo.

São tantos os  recuos, desmentidos e situações embaraçosas que o governo organizou o ‘Departamento de Recuos e Desmentidos’ (DRD), órgão ligado à secretaria de comunicação, criado para desmentir ou recuar de decisões tomadas pelo chefe do governo e sua prole.

As trapalhadas vão desde golden shower até o liquidificador assassino. Só nos primeiros 100 dias de governo, o governo de Jair Bolsonaro colecionou um sem número de fatos inusitados, ofensas a brasileiros no exterior, desconhecimento da história, constrangimentos internacionais e falas questionáveis. 

Não há nenhum bom senso nas ações de Jair Bolsonaro. A nossa sorte é que ele é um mandrião, só trabalha, em média, 4,8 horas por dia. Se ‘trabalhasse’ mais o estrago seria maior.

Golden shower, lembra.  Essa é clássica. Logo após o Carnaval, em 6 de março, o presidente Jair Bolsonaro publicou em seu Twitter - o canal oficial para comunicação das suas decisões de governo - um vídeo, digamos, bastante explícito, que mostrava um jovem urinando na cabeça de outro.

Mas Bolsonaro não ‘paga mico’ sozinho. Ele se cercou de idiotas. O tal ‘ministério técnico’. Uma das maiores geradoras de polêmica no governo Bolsonaro é a ministra Damares “vi Jesus na Goiabeira” Alves. Logo nos primeiros dias de governo ela já soltou a pérola de que vivemos em uma “nova era” em que “menino veste azul e menina veste rosa”. Não satisfeita, arrumou uma treta com a personagem Frozen, lembra?

O governo Bolsonaro parece não entender quais são os limites entre representação política e relação familiar. Durante a agenda do pai, Jair, nos Estados Unidos, o filho Zero 2, Carlos, que é vereador no Rio de Janeiro, foi a Brasília tocar a agenda do presidente, o que deveria ser feito pelo vice, Hamilton Mourão.

Os constrangimentos internacionais parecem ser o forte do governo Bolsonaro. Nesse caso, ele veio aliado a uma inabilidade política interna. Em visita aos Estados Unidos, Bolsonaro deixou o ministro das Relações Exteriores fora da reunião com o presidente Donald Trump. Quem entrou no lugar dele foi o filho de Jair, Eduardo Bolsonaro. Na reunião com Putin, a estratégia se repetiu

Em viagem a Israel no início de abril, Bolsonaro visitou o Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, que lembra as vítimas do genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra. Logo em seguida disse que o nazismo era de esquerda porque tinha “Nacional Socialista” no nome. Só que o próprio museu israelense define o nazismo como um movimento de direita. 

Outra: Bolsonaro tinha 45 minutos para falar sobre o Brasil a líderes mundiais e investidores. Usou seis. Além do constrangimento pelo desperdício de tempo, ele ainda cancelou, no dia seguinte, a entrevista coletiva que concederia a jornalistas, 40 minutos antes de ela acontecer. Não tinha o que falar.

Depois de o Hamas - grupo que controla a Faixa de Gaza - criticar as medidas anunciadas por Bolsonaro em Israel, o filho do presidente Flávio Bolsonaro postou em seu Twitter: “Quero que vocês se explodam” e apagou logo em seguida. O Hamas respondeu e chamou Flávio de “o filho do extremista presidente brasileiro”.

Em carta às escolas, o Ministério da Educação determinou que elas filmassem as crianças cantando o hino nacional e enviasse o arquivo para o MEC. O e-mail pedia ainda que fosse lida uma carta que terminava com os dizeres “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, slogan de campanha de Bolsonaro. Alvo de críticas, o ministério voltou atrás. 

No meio do debate sobre a flexibilização da posse de armas, em janeiro, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, comparou o risco para uma criança de ter uma arma em casa ao de ter um liquidificador.

Em entrevista ao programa Roda Viva, em 11 de fevereiro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo ‘Passa a Boiada’ Salles, admitiu que nunca tinha visitado a Amazônia e que não sabia quem era Chico Mendes. Mesmo assim, o ministro disse que Chico Mendes era um aproveitador que “usava os seringueiros”.

Bolsonaro começou o governo prometendo uma “despetização”. Em uma semana, ele exonerou 293 de cargos de confiança. Desses, 1% era de petistas. A limpa deixou a Casa Civil sem pessoal nem para demitir ou contratar novos funcionários.

Em transmissão ao vivo em seu Facebook no início de março, Bolsonaro recomendou que os pais rasgassem as páginas com informações sobre educação sexual da caderneta de vacinação de seus filhos.

O governo Bolsonaro não parece mesmo gostar do Brasil. Seu primeiro ministro da Educação, Ricardo Vélez, disse, em entrevista à revista Veja: “O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo”.

Tudo isso, sem falar no famigerado ‘sigilo de 100 anos’. Sem ele, as notícias do governo seriam motivo de choro, não de riso.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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