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TAÍ UM PRESIDENTE QUE SABE O QUE QUER

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O jornalista Ivan Lessa, escreveu n'o ‘Pasquim’, em outubro de 1972, uma história sobre o ex-ditador das Filipinas, Ferdinand Marcos (1965 a 1986) que me fez lembrar o atual governo de Jair Bolsonaro.

Lessa lembrou que o governo do presidente Ferdinand Marcos, após fechar por tempo indeterminado todas as Universidades e escolas secundárias das Filipinas, advertiu todos os estrangeiros a não fazerem bobagens ou tolices. Ferdinand, que não era homem de meias-medidas, fechou também jornais, revistas, estações de rádio e televisão, além de mandar prender e raspar a cabeça de tudo quanto era cabeludo.

Ferdinand, que em seus 25 anos de vida pública, já fechou de tudo, explicou sua sanha tresloucada: “Em 1921 fui levado por um tio ao teatro. Era a minha estreia como espectador. Tive nojo de tudo. Dos cenários, das luzes, das roupas, dos atores. Lembro que perguntei ao meu tio porque não fechavam aquela porcaria. Ele limitou-se a sorrir. Mais tarde, com o tempo, fui tomando nojo do resto todo: cinema, televisão, revista, jornal, livro, tudo. Hoje, graças a Deus, estou na posição de defender outras crianças como eu. Já sabem - abriu, eu fecho! E, olhem, ainda não fechei nem metade!”

Não conheço a história por trás do ódio de Jair Messias Bolsonaro pelos livros, pela arte e pela cultura em geral, mas posso imaginar que aconteceu algo mais ou menos assim:

- Jairzinho, acabe já com essa brincadeira de pau de arara! E trate de tirar seu irmão daí que ele já está ficando verde - gritou a mãe do pequeno Jair.

- Poxa, mãe, logo agora que ele ia confessar onde escondeu a minha máquina de choque elétrico.

- Por quê vocês não brincam de teatro, de desenhar ou de ler poesias?

- Essas são brincadeiras de viado, mãe. Meninos brincam com armas de fogo, facas, canivetes.

- O que você acha que vai ser quando crescer, com esse tipo de brincadeira?

- Quero ser da polícia de Getúlio Vargas.

- O que é isso, Jairzinho! Getúlio Vargas foi um ditador desumano. Criou um “estado policial”, de exceção, sem garantia das liberdades individuais, sem liberdade de expressão e sem direitos políticos e civis. Você precisa ter um herói. Um super-herói e não um ditador como exemplo.

- Tá bom! Quero ser um policial, igual ao Filinto Müller, chefe da polícia do Vargas.

- Já pra dentro! Vá para o seu quarto ler um livro!

- Mas, mãe, a senhora sabe que eu odeio livros! Tem muitas letrinhas neles.

- Não importa. Leia.

- Quando eu crescer vou ser presidente do Brasil e vou acabar com a arte, os livros, a cultura e com toda essa baboseira que não serve para nada, taokey.

Está aí um homem que, desde criança, sabe o que quer. Boa, Bolsonaro!!

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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