Coluna

Ziriguidum ofusca Tiradentes

- Marineth, ocê vai sacudir o esqueleto no ziriguidum, dia 21 de abril, feriado nacional que celebra Tiradentes, o Patrono da Nação Brasileira? Vai usar a tradicional fantasia de colombina? Ou se vestir de Maria Chiquinha, com trancinhas avermelhadas até à altura das nádegas e batom roxo cintilante na boca? Será quase que impossível resistir aos apelos orquestrados por alguns oligopólios de comunicação que exploram o carnaval. Mas, tem gente indignada com a mudança da data da folia dita profana do Rei Momo de fevereiro para abril. Coincidência ou não, a Império Serrano, bi-campeã, em 1949, com o tema Exaltação a Tiradentes, vai desfilar na data de morte e esquartejamento do líder da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier. A agremiação tentará mais uma vez voltar ao Grupo Especial. Afinal, o ziriguidum conspurca a lembrança cívica do nosso herói?

TIRADENTES
Tiradentes, enforcado e esquartejado, é Patrono da Nação Brasileira. 

- Athaliba, a fantasia não é uma nem outra. Espero não te decepcionar com minha criação, tendo como base tapa sexo que rainha de bateria usa no desfile de escola de samba. O meu tapa sexo terá rosa vermelha frontal, ornamentando os pelos pubianos e, atrás, coração rosa choque. Os seios serão adornados com girassol. Vou me concentrar na Cinelândia e saracotear em todo o bloco que penetrar na Avenida Rio Branco. Sobre o fato de o carnaval ser realizado de 20 a 23 de abril, atravessando o Dia de Tiradentes e terminando no Dia de São Jorge, não vejo incivilidade.

- Marineth, a observação de profanação ao Dia de Tiradentes foi feita por um motorista de taxi que encontrei numa oficina mecânica. Ele caiu de pau no Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, que chama de “filhote factoide de César Maia”. Argumentou que o alcaide é carreirista do tipo artificioso e que não compreende como ele consegue enganar, iludir, ludibriar a população carioca. A defesa acirrada do motorista em respeito à data comemorativa do herói Tiradentes me lembrou Barbosa Lima Sobrinho, que presidiu a ABI - Associação Brasileira de Imprensa. Sempre citava o mártir da Inconfidência Mineira como verdadeiro herói brasileiro. 

- Athaliba, duas coisas (coisa é ótima, né?) sobre a ABI. Tem duas mulheres encabeçando a Chapa Democracia e Renovação, na disputa das eleições para a diretoria da instituição neste abril de carnaval fora de época. São elas Cristina Serra e Helena Chagas respectivamente, para presidente e vice-presidente. Aposto que desta vez os associados irão eleger a primeira mulher para presidente da combativa instituição. A outra é admiração sobre a trajetória do Barbosa Lima Sobrinho na vida política brasileira, que quero deixar registrada.

- Marineth, a candidatura da jornalista Cristina Serra é admissível, no sentido de quebrar o víeis machista predominante na Casa do Jornalista. É hora da ABI ter na presidência uma mulher qualificada e competente, profissionalmente. Sobre Barbosa Lima Sobrinho, por muitos anos tive o privilégio da convivência com ele, integrando o Conselho Deliberativo, do qual fui 1º secretário. Ele, nacionalista, tinha profunda admiração por Tiradentes, citando-o como exemplo de cidadão à defesa da independência e soberania do Brasil.

- Athaliba, a morte de Tiradentes à forca foi cruel.

- Sim, Marineth. Joaquim José da Silva Xavier foi dentista amador, e daí ganhou o apelido de Tiradentes. Líder dos inconfidentes na luta para eliminar os monopólios comerciais de Portugal e contra os rendosos postos da burocracia estatal, ele também buscava acabar com a exploração da Coroa portuguesa na cobrança de tributos das minas de ouro, na Capitania de Minas Gerais. A prisão dos revoltosos resultou na expulsão dos líderes e Tiradentes recebeu a sentença de morte.

- Athaliba, ele era mineiro e aonde ele foi enforcado?

- Marineth, é preciso lembrar que o coronel Silvério dos Reis, um dos conspiradores, foi o traidor da Inconfidência Mineira. Tiradentes nasceu a 12/11 de 1746 na Fazenda do Pombal, em MG. Foi preso no Rio de Janeiro, em 1789, e morto e esquartejado em 1792, dia 21 de abril, na cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto. A cabeça foi pendurada em um poste e as demais partes do corpo espalhadas pela estrada que ligava Vila Rica ao Rio de Janeiro. A Coroa portuguesa pretendeu usar a morte dele como exemplo aos que lutavam contra a exploração que praticava. 

- Athaliba, domingo, 23, é dia de São Jorge. Vou pedir proteção para os foliões contra o COVID-19, que matou mais 70 mil pessoas no Rio, entre os mais de 660.000 no Brasil.

- Marineth, por favor, não priorize o tapa sexo em detrimento da cabeça. Deixa rolar o que for, mas não a perca. A história conta que Jorge da Capadócia foi decapitado. Fique atenta!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

Comentários


  • 11-04-2022 01:01:52 Luiz Carlos Novaes de Araújo

    Muito bom , participar é gostoso de ler e dar muitas risadas. Parabéns

  • 09-04-2022 21:15:11 EDUARDO MOREIRA

    Realmente, todo o dai 21 de abril, exaltamos e fazemos relembrar a figura do "mártir" Tiradentes, mas ao fazê-lo estamos dado azo a uma das maiores mentiras históricas de que se tem conta no país. O alferes Joaquim José da Silva Xavier, jamais foi executado e sim, um malfeitor condenado à morte, é que foi sacrificado em seu lugar. Ele, ao receber a extrema-unção na Igreja da Lampadosa, foi substituido pelo citado malfeitor, que saiu amordaçado, amarado e com um capuz para que não fosse identificado, tendo havido a ordem de que, logo após a execução, seu corpo fosse esquartejado, sendo a sua cabeça pendurada no mastro mais alto, de forma que se tornasse impossível e verificação da troca, promovida pelo Promotor de Justiça, seu amigo, que posteriormente o levou para Portugal, com documentos falsos de identificação, sendo colocado ao serviço da Côrte em Lisboa, de onde somente veio a sair, acompanando a Família Real, quando em 1808 se deslocou com toda a Côrte para o Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, permaneceu até 1816, quando faleceu vírima de doença.