Bolsonaro tinha acabado de ler os jornais , quando Eduardo Bolsonaro, entrou no gabinete:
- O que houve, pai? Por que o senhor está arrancando os cabelos?
- Você já leu os jornais de hoje?
- Eu não gosto de ler, pai. Eu sou como o senhor, não leio livros nem jornais. Tem letrinhas demais.
Bolsonaro pega os jornais e mostra para o filho:
- O povo está desesperado com a situação econômica do país. Minha popularidade está caindo mais do que bombas na Ucrânia. A população não aguenta mais os preços dos alimentos, da água, da luz, do gás de cozinha, da gasolina, do álcool, do óleo diesel… A inflação já está em quase 11%.
- Olha só, pai, a cenoura subiu 88,15%!! Porque o senhor não põe a culpa da inflação na cenoura?
Bolsonaro balança a cabeça negativamente, pega o celular e liga para a primeira-dama:
- Alô, Michelle! Olha só, corta a cenoura da lista de compras, taokey?
- Cortar a cenoura? Por que? É por causa dos agrotóxicos?
- Não é nada disso daí, não, taokey? A ‘cuestão’ é que a cenoura subiu 88,15%. Tá um assalto!
- Eu vi. A Ana Maria Braga até usou um colar de cenoura hoje na TV. Posso comprar um igual ao dela com o seu cartão corporativo? - perguntou a primeira-dama.
- Tudo bem, mas não vai abusar. Não quero que a esquerda fique espalhando por aí que eu estou abusando do cartão corporativo.
- O senhor é pura astúcia, pai - elogiou Eduardo.
- Precisamos de uma ‘cortina de fumaça’ para desviar o foco dos principais problemas do país, Eduardo. Alguma coisa que faça as pessoas esquecerem os preços dos combustíveis e da cenoura.
- Gostei da idéia, pai. O senhor é muito inteligente. Não sei como ainda não lhe deram o ‘Prêmio Nobel de Economia’. É tipo a ‘Cortina de Ferro’, da antiga União Soviética, né? A gente é praticamente comunista, né pai?
- Nada disso daí. Como você é burro, Eduardo! Ainda bem que você entrou cedo pra política. Na iniciativa privada você seria no máximo um porteiro.
- Obrigado pelo elogio, pai. O senhor quer que eu peça para o Artur do Val fazer mais alguns ‘elogios’ às mulheres ucranianas?
- Esquece isso daí. Isso já deu. Já sei. Chama o ministro da justiça, vamos censurar o filme “Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola”. Vamos acusa-lo de fazer apologia à pedofilia. Na segunda-feira todo mundo vai estar comentando a censura ao filme e vão esquecer do preço da gasolina.
- O senhor é um gênio, pai.
- Eu também acho.
Não demorou muito e o ministro da Justiça, Anderson Torres, entrou na sala:
- Mandou me chamar, presidente? - perguntou o ministro.
- Mandei, sim, Torres. Eu quero que você mande remover das plataformas de streaming o filme “Como Ser o Pior Aluno da Escola”, taokey?
- Mas, qual o motivo, presidente? Esse filme do Danilo Gentili é de 2017 e foi autorizada a exibição pelo próprio Ministério da Justiça com classificação indicativa de 14 anos.
- O filme faz apologia ao abuso sexual infantil, taokey? Uma cena protagonizada por Fábio Porchat mostra o personagem assediando sexualmente dois garotos.
- Capitão, o personagem é o vilão do filme. E a produção não faz apologia à pedofilia, mostra apenas a realidade. E depois, como nós vamos explicar que um filme liberado pelo Ministério da Justiça, há cinco anos atrás, de repente virou pauta em plena segunda-feira, véspera de aumento de combustível?
- Eu sei lá! Faz como o pastor Marcos Felicianos: diz que o censor, quando liberou o filme, estava atendendo o telefone.
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