Uma das frases mais conhecidas entre os cristãos é aquela que o Mestre nos ensinou: Amar ao próximo como a ti mesmo.
Amor, por princípio, envolve todo o carinho que um ser humano tem por seu semelhante e também é extensivo a todos os seres vivos que convivem com ele. Ficamos, no entanto, constrangidos pela questão de saber como nos alimentar. É um paradoxo, e louvo, por isso mesmo, àqueles que optam pelo vegetarianismo, talvez a essência final desse respeito ao próximo; in totum.
Então, temos que estabelecer o que seria ou seriam os próximos.
É aquele ou aqueles que estão ao nosso lado, literalmente, ou alinhados por algum sentimento de amizade ou amor ou são aqueles que estão distante de nós, e nos chegam através do pensamento e da dor de conhecer os seus sofrimentos?
O Mestre nos ensinou a não violência, a compreensão pelo que o outro sente e sermos responsáveis pela vida na terra, já que somos uma raça privilegiada, dentro do espectro da natureza, responsáveis por conservar a vida em nosso planeta.
Portanto, não seria contradição alguns utilizarem a imagem Dele como uma motivação qualquer, tanto de exploração do próximo ou o seu uso político? Como podemos conceber que alguém, por exemplo, use as mãos como uma arma em punho e dizer que é em Seu nome? Como podemos dizer que alguém defenda a vida, inclusive no combate ao aborto e, ao mesmo tempo, considere um torturador que sevicia vítimas amarradas e prisioneiras um tipo de herói, e louvar o pai do Mestre, ao mesmo tempo? Uma onda de insanidade e incoerência que varre algumas partes do mundo.
Se os nossos próximos não são somente os homens, mas a natureza em si, como conviver com a caça, digamos, esportiva, ou mesmo apostar que armar a população seja uma maneira de preservá-la, quando a polícia, muitas vezes, encontra nas mãos de marginais armas compradas legalmente ou pertencentes à própria instituição ou a instituições responsáveis por segurança?
Dá para dizer respeito ao próximo se falamos todo o tempo palavras que lembram a morte?
Além disso, esse próximo que o Mestre nos referiu seria o próximo afinado com nossas ideias de convivência ou aquele que precisa de nós?
Amar ao próximo como a ti mesmo vai mais além da própria frase. O próximo não é aquele que cumprimentamos nos cultos religiosos, sentado ao lado, e depois não sabemos para onde vai ou o que vai fazer. O próximo pode ser aquele que vive uma vida por escolhas diferentes, próprias ou não, e não nos cabe julgar por que motivo não tomou um caminho ou outro. O próximo pode ser aquele diferente que nos faz pensar “Se eu, por um motivo qualquer, fosse aquele, que tipo de compreensão da sociedade eu gostaria de receber?”.
Amar ao próximo é ver o próximo que não se afina com nossas ideias como alguém que mereça nossa compreensão. Praticar esse amor não é fácil. Mas quem disse que o Mestre mostrou que a vida seria fácil?
Quando políticos, empresários, trabalhadores liberais ou não, religiosos usam essas palavras para atingir seus objetivos não deveriam deixar de lado as coisas de Deus e nos seus pecados e egoísmos falar, somente, as coisas de César?
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