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O ‘VEREADOR FEDERAL’

Uma coisa ninguém pode negar: Bolsonaro e sua família estão à frente do seu tempo.

Depois de implantar o ‘socialismo de milícia’ nos salários dos funcionários de seus gabinetes - as chamadas rachadinhas -, Bolsonaro criou o ‘vereador federal’.

Divulgação -  

O filho 02 do atual presidente da República, o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos), também conhecido como “Carluxo” ou 'Thammy Gretchen”, para os mais íntimos, mesmo sem agenda de compromisso oficial no exterior, e com o Rio de Janeiro cheio de problemas, acompanhou o pai na viagem oficial à Rússia. 

Carluxo, todo mundo sabe, adora viajar. Esta não é a primeira vez que o 02 acompanha o pai em viagens internacionais. Em outubro, Carlos viajou com o presidente para a Itália, onde Bolsonaro participou da cúpula do G20.

Desta vez, Carluxo embarcou ainda sem saber para onde seria a viagem: 

- Nós vamos pra onde, papi? Já sei, vamos visitar os EUA. Disneylândia, certo? - indagou.

- Que Disneylândia?! Zero! Nós vamos para Moscou. Vamos visitar o meu amigo, o líder russo, Vladimir Putin, e de lá vamos dar um pulo na Hungria, do meu irmão Orbán.

- Rùssia?! Hungria!? Mas, capitão, um é comunista e o outro um ditador fascista. O senhor odeia comunistas. Não foi o senhor que disse que a nossa bandeira nunca seria vermelha?

- O que você quer que eu faça, nessa cuestão daí, 02? O Lula está visitando todos os grandes líderes mundiais da Alemanha, Bélgica, França, Espanha… e eu, até agora, só visitei Juazeiro do Norte.

- Por que, então, o senhor não visita os grandes líderes democratas, como fez o Lula?

- Ninguém quer me receber! Nem o presidente  Joe Biden, dos Estados Unidos; nem Emmanuel Macron, da França;  nem o  Primeiro-Ministro, Pedro Sanchez, da Espanha. Ninguém! 

Logo que chegou à Rússia, Bolsonaro e sua comitiva foram colocados em quarentena. Por conta das rígidas regras sanitárias no Kremlin, o capitão permaneceu confinado em seu hotel, em Moscou, até a reunião com o presidente russo. 

Putin conseguiu, em menos de 24 horas, obrigar o capitão a fazer tudo o que a justiça, o Congresso, o STF, a imprensa, a esquerda e a direita não conseguiram fazer no Brasil: Bolsonaro fez o teste da Covid-19, usou máscara, fez quarentena, foi educado, respeitou o distanciamento social e comeu farofa sem sujar o chão.

Em viagem, marcada para que fossem fechados acordos para a compra de agrotóxicos, digo, fertilizante  e a parceria com o ‘Telegram’, aplicativo de mensagem russo, a participação do Carluxo era imprescindível.

Quando Putin recebeu Bolsonaro, muitas palavras floridas foram trocadas e, como são faladas em russo e - pior - em linguagem diplomática, não se pode ter certeza  de que cada parte está realmente dizendo.

Bolsonaro e Carluxo, me confidenciaram, na saída do encontro, que não entenderam nada, mas eu, com muito esforço, fui capaz de traduzir alguns trechos da conversa.

Bolsonaro falou primeiro:

- Estou muito feliz em conhecer seu país, meu amigo Vlad, amo seu povo. Conheci um de seus pratos preferidos: a salada russa e suas mulheres, tão belas quanto as matriochkas.

- Tome esse chapéu, use quando for reverenciar os soldados comunistas - desconversou, Putin, visivelmente irritado.

- Vlad, você é meu amigo, taokey? Somos solidários à Rússia!

- Por que você trouxe um vereador? No Brasil, os vereadores são federais?

- Não. Bem. Carluxo “mexe” nas redes sociais, disse Bolsonaro, tentando justificar a presença do filho 02 na comitiva presidencial. 

- Você já leu Tolstói?

- Não, mas vi o desenho.

Putin balançou a cabeça, negativamente, já pressentindo que o ex-militar não se dá bem com o cinema, a literatura e com a cultura em geral. 

Até agora, na viagem a Moscou, Carluxo comeu trinta e oito croquetes e publicou oito posts na conta do pai  no Twitter. Em um deles, Bolsonaro se comparou  a D. Pedro II, o primeiro estadista brasileiro a visitar a Rússia, em 1876. 

“146 anos depois, no ano em que comemoramos 200 anos da independência do Brasil, tenho a satisfação de realizar o mesmo percurso", escreveu Bolsonaro.  

- Olha, papi! O Ricardo ‘Passa a Boiada’ Sales, já replicou o meu Twitter com o vídeo falso, de que você teria influenciado Vladimir Putin, a decidir tirar partes das tropas que circundam a Ucrânia. Estão dizendo que o senhor acabou com a guerra.

- Muito bem! Meus seguidores no cercadinho vão adorar isso daí! Eles acreditam em tudo!

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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