Coluna

BIBLIOTECA NÉLIDA PIÑON

SONHOS SÃO AZUIS
Divulgação / Bhega e Geraldo -  

Fui apresentado a ‘Nélida Piñon’, pelo cantor e compositor Bhega, na comunidade Marcílio Dias (Kelson), no complexo da Maré, no bairro da Penha, no Rio de Janeiro. 

Numa tarde quente de sol, entramos na comunidade e logo na entrada, lá estava ela - simples mas imponente - a Biblioteca Comunitária Nélida Piñon. 

Criada em 2007 e mantida até hoje com recursos próprios de seu idealizador, o paraibano Geraldo Oliveira, que paga o aluguel e as demais despesas sem ajuda do poder público.

“Eu via os adolescentes saírem da favela para procurar uma biblioteca na cidade para fazer trabalhos de pesquisas. Como eu já tinha livros em casa, as crianças iam lá para pesquisar. Aí veio a necessidade de criar o espaço para montar a biblioteca, em 2007.”

A ideia surgiu quando Geraldo  visitou o amigo Evandro, na Vila da Penha, que fazia uma feijoada literária na biblioteca comunitária do bairro. Lá, ele conheceu a secretária da escritora Nélida Piñon. Em uma conversa rápida, surgiu a inspiração para o nome da futura biblioteca do Geraldo: Nélida Piñon.

“Foi uma luta intensa, com muitas preocupações. Quase perdi o carro e o casamento. Mas hoje me sinto feliz vendo esse sonho realizado” - diz Geraldo, sobre ter superado uma etapa de grave crise pessoal e financeira, que quase fez  a biblioteca fechar definitivamente. 

A história da biblioteca se confunde com a de Geraldo Oliveira, um poeta e cordelista paraibano, nascido em 06 de maio de 1949, no município de Guarabira, na Paraíba e radicado no Rio de Janeiro, desde junho de 1966. 

Geraldo desde criança foi um apaixonado por livros e poesia de Cordel. Chegou  ao Rio de Janeiro com  17 anos. Algum tempo depois, Geraldo foi morar em Copacabana, no Edifício Richard, no ‘lendário’ número 200 da rua Barata Ribeiro.

O icônico prédio foi um dos símbolos de Copacabana na 'belle époque’. Inspirou o filme ‘Um Edifício Chamado 200’, comédia de 1973, dirigido por Carlos Imperial, baseado na peça homônima escrita pelo  dramaturgo paraibano Paulo Pontes. A peça foi um marco da crítica social no tempo da ditadura. 

O filme conta a história de Alfredo Gamela (interpretado por Milton Moraes), um carioca que embora não tenha dinheiro, gosta de aparentar que é rico e um dia, recebe a visita de um extraterrestre que lhe mostra os números da loteria para ele ganhar 19 bilhões de cruzeiros.

Geraldo não recebeu a visita de um extraterrestre, como o Gamela, mas um dia recebeu a visita do apresentador Luciano Huck e ganhou 27 mil no programa da TV Globo, o que permitiu a mudança da biblioteca para um prédio maior.

Hoje, a biblioteca proporciona também assessoria jurídica à população e exame de vista gratuito aos moradores. Com a criação da biblioteca, a cultura, o lazer, o entretenimento, a pesquisa e os conhecimentos foram inseridos na comunidade, despertando um sentimento de cidadania  dos moradores.

Não é todo dia que você esbarra, em uma favela do Rio de Janeiro com uma  escritora famosa no mundo inteiro, como Nélida Piñon. Mas numa sexta-feira - 21 de junho - de 2007 Nélida Piñon passou o dia na comunidade, inaugurando a primeira biblioteca batizada com seu nome. 

Nélida Cuíñas Piñon - filha de pais originários da Galícia, na Espanha - nasceu no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro, no dia 3 de maio de 1937. 

É uma escritora brasileira, autora de diversos livros. Foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras por ocasião do seu primeiro centenário em 1997.

Ainda criança, Nélida já escrevia pequenas histórias. Em 1961, aos 24 anos, estreou na literatura com o romance ‘Guia-mapa de Gabriel Arcanjo’.

Em 1990 foi eleita para a cadeira n.º 30 da Academia Brasileira de Letras. Em 1996 foi eleita a primeira mulher a presidir a ABL por ocasião do seu primeiro centenário.

No dia 9 de novembro de 2011, foi inaugurada em Salvador, Bahia, a Biblioteca Nélida Piñon, a primeira biblioteca do Instituto Cervantes que recebeu o nome de um escritor de língua não hispânica.

Em outubro de 2015 foi inaugurada em Cotobade, Galícia, terra de sua família, a Casa de Cultura Nélida Piñon.

Visite e ajude a biblioteca Nélida Piñon a continuar levando cultura ao Complexo da Maré.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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