Enfim, chega às livrarias a primeira biografia dedicada ao cantor, violonista e compositor João Gilberto, escrita por Zuza Homem de Mello.
Em “Amoroso - uma biografia de João Gilberto” (Editora Companhia das Letras - 323 págs), o produtor, pesquisador musical e amigo particular do criador da bossa nova, Zuza Homem de Mello, revisita a vida e a obra de João Gilberto.
Zuza foi o mais respeitado jornalista e musicólogo brasileiro. Especializado em música brasileira e jazz, em “Amoroso” o autor reconstrói a trajetória musical de seu amigo e ídolo em prosa leve e alegre, como o som de João Gilberto.
Enquanto Ruy Castro traçou um panorama abrangente da Bossa Nova em “Chega de Saudade — A História e as Histórias da Bossa Nova” (Companhia das Letras, 536 páginas), Zuza, em “Amoroso”, foca na vida e obra de João Gilberto.
“Amoroso” é a primeira biografia dedicada ao cantor baiano. Personagem tão apaixonante quanto idiossincrático, responsável por uma revolução na maneira de cantar e tocar violão que mudou tudo na música brasileira.
João Gilberto foi grande. Grande e único. Graças a ele, a bossa nova se consolidou e a música brasileira ganhou o mundo. A brilhante geração de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Chico Buarque não teria ido tão longe se não fosse a inspiração de "Chega de saudade", disco que João lançou em 1958.
Zuza optou por manter a biografia em tom fluente, harmonioso, leve, sempre tendo como foco principal a obra do gênio e, antes, os caminhos percorridos por João para chegar ao som rotulado de bossa nova.
Já não restam superlativos para caracterizar a música de João Gilberto. Com sua voz e seu violão inigualáveis, o criador da bossa nova foi reverenciado no mundo inteiro.
De Salvador a Tóquio, passando por Nova York, Rio de Janeiro e Cidade do México, somos levados aos estúdios, teatros, bares, clubes e festivais por onde João circulou, e conhecemos os compositores, arranjadores, instrumentistas, produtores, jornalistas, técnicos de som e empresários que cruzaram seu caminho.
Essa rota, na verdade, começou em Juazeiro (BA), cidade natal do cantor, de onde o adolescente que cantava coisas do rádio no alto-falante da Praça da Matriz de sua cidade saiu sonhando em se profissionalizar. Passou por Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS) e Diamantina (MG) antes de ganhar o mundo e voltar para o Rio de Janeiro (RJ), cidade onde João fez efetivamente, em 1958, a revolução de um novo estilo de cantar samba.
Zuza conheceu João em Nova Jersey (EUA), em dezembro de 1967, a proximidade com o cantor permitiu ao biógrafo diluir mitos sobre o mito.
Fica claro na biografia que toda e qualquer especificidade era fruto da obsessão do artista pela perfeição. A biografia explica as sutilezas do canto de João e desmistifica algumas manias do cantor, como a perfeição do som e os recorrentes atrasos nos shows e em viagens (os voos eram remarcados sucessivas vezes) são teses discutidas no livro e atribuídas ao perfeccionismo e a aparente necessidade de isolamento do cantor.
Em narrativa embasada em pesquisas e depoimentos, além do rico conhecimento angariado pelo autor pela proximidade com o biografado, ao longo da vida, Zuza revela bastidores de gravações de discos, analisa álbuns, explica, do ponto de vista técnico, a invenção da tal batida diferente do violão de João Gilberto que personifica a bossa nova.
Entusiasta da arte de João Gilberto, Zuza Homem de Mello (20 de setembro de 1933 – 4 de outubro de 2020), em seu último livro, apresenta uma biografia fiel ao trabalho e à carreira do amigo. Do início, nas ruas de Juazeiro, até nos deixar, aos 88 anos, em julho de 2019.
*Livro gentilmente cedido pela editora.
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