Nunca imaginei que comer camarão, hoje em dia, fosse algo tão polêmico. Claro, se imaginamos aonde a inflação está indo, comer camarões, hoje em dia, é uma causa polêmica.
No mínimo, alguém perguntaria que luxo é esse, além de ir ao posto de gasolina para abastecer o carro, comer tal guloseima? Ainda que fosse um pedaço de alcatra ou contra filé em promoção ainda vá lá, mas camarão, aí não, isso já é demais.
Na verdade, o problema não está no consumo da iguaria, é óbvio, está no consumidor. É claro que ninguém questiona se a tal da iguaria, como se diz por lá, nas terras altas, faz parte de uma licitação pública porque o consumidor é preferencial e define o cardápio e a malta o aceita por ser… malta, e ninguém está preocupado com a opinião dela. Mas, consumido por outros mais abaixo na escala alimentar, a malta… aí é demais, diria a... malta
Esse demasiado é sempre discutido pelo viés ideológico (sic), de que seja vedada aos consumidores de mal as iguarias destinadas a eles, os consumidores de bem.
O tal crustáceos, tão apreciado por tantos e consumido por poucos, já foi usado até para definir a forma de se votar. Alguém lembra do voto camarão? Pois é, é aquele que o vereador, deputado ou senador pedem o seu voto e impulsionam o voto majoritário, embora de viés ideológico distinto. Caso o eleitor se incomode com o voto majoritário, é pedido então que ele seja ignorado e o voto vai para o candidato somente: esse é o voto camarão sem cabeça.
Bem a propósito, sem cabeça existem muitos eleitores e candidatos a eleitos. Inclusive na cabeça do camarão, que caberia ao tal do candidato majoritário, está localizado o sistema digestivo do animal, ou seja, pacote completo.
Somente uma cabeça assim poderia imaginar que a guloseima seja restrita a alguns grupos, e a outros, embora a possam comprar, essa permissão seja negada. Coisa dura de digerir, a menos que essa digestão esteja concentrada na cabeça de alguns.
Não me importaria se aqueles que, realmente, dispõem da tal iguaria se encontrem em situação incômoda, e fossem os únicos. O problema é que a grita pelo consumo esteja restrita contra àqueles que não a compram, regularmente, e a comilança seja transformada em evento. E quando compram ou comem indignam aqueles que compram, mesmo que, eventualmente.
Imaginemos que um pescador vá ao mar, enfrente as intempéries, consiga capturar o crustáceo, o leve ao mercado e não possa consumir o próprio fruto de seu trabalho. Ao ver um pescador consumindo a iguaria em sua casa, grupos diriam que aquela possibilidade não seja aceitável; fazer uma refeição digna de um rei? Mas, a pergunta que permanece é: e se o pescador não for ao mar, haverá camarão para o rei? Ou, se o pescador consumir vai faltar para a comida do rei? Para aqueles que criticam será porque não possam comprar e, portanto, se revoltam contra os que, eventualmente, podem? E ficam felizes porque o rei possa consumir?
É, cabeça de camarão têm dessas coisas.
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