Coluna

Jorge Amado, presente!

Jorge Amado
Jorge Amado, escritor brasileiro universal, autor de 'Subterrâneos da liberdade'. Divulgação - 

- Marineth, o dia 6 de agosto deste ano de 2021 sinaliza duas décadas da morte do nosso eterno escritor Jorge Amado. E ao contrário de tristeza e lamentação, a data serve de celebração, exaltação ao mais famoso e traduzido compositor de letras da história da literatura brasileira de todos os tempos. Também é o autor que tem mais obras literárias adaptadas para a televisão, teatro e cinema. Fui à estante para tirar da prateleira e reler “Os ásperos tempos”, “Agonia da noite” e “A luz no túnel” que compõem a trilogia Subterrâneos da liberdade. Os três volumes já passaram pelas mãos de várias pessoas e voltaram à biblioteca. A releitura da obra é urgente e necessária nesses tempos macabros da conjuntura política negacionista da nossa pátria amada.

- Athaliba, parabéns pela saudação ao Jorge Amado. Aproveito (sendo bem oportunista) para sugerir à direção da inepta Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade - FCCDA -, em Itabira, que inclua homenagem a ele na programação do Festival Literário Internacional. O evento é projetado para ser realizado na Semana Drommundiana, em outubro. Será que a FCCDA terá capacidade, competência para a realização de importante acontecimento à literatura nacional?

- Ora, Marineth, desejo que sim. O público em geral, por certo, agradecerá. Que a FCCDA não seja tão fútil como tem sido. Afinal, Jorge Amado e Carlos Drummond trocaram figurinhas ao longo da vida. Foram militantes do Partido Comunista Brasileiro - PCB. A direção da Casa do Rio Vermelho - residência do escritor, com dois mil m² onde no jardim estão depositas as cinzas dele e da mulher, Zélia Gattai, na Bahia -, ainda processa a catalogação das correspondências com escritores, poetas e intelectuais do tempo de vida dele. Está entre eles Pablo Neruda, Gabriel Garcia Márquez, Graciliano Ramos, José Saramago e Carlos Drummond. O acesso às cartas, porém, segundo a poetisa Myriam Fraga, que administra a casa, só acontecerá após 50 anos da morte de Jorge Amado, que deixou o pedido por escrito.

- Athaliba, vou pedir a Xangô e Iansã prorrogação do tempo da minha existência para além do ano de 2051 para conhecer o conteúdo das cartas. Quero muito saber do teor das cartas, em tempos anteriores ao advento do correio eletrônico pela Internet. Relatos sobre livros e obras de arte, além, claro, de fatos do cotidiano, como política, por exemplo, poderão surpreender a classe de historiadores. Desde já vou deixar prevenida minha amiga itabirana Ana Alvarenga de Souza, professora e historiadora, para não deixar de acessar esse precioso acervo de memória. Espero que ela tenha concluído a leitura de Subterrâneos da liberdade, que a ofertei.

- Excelente, Marineth, a ideia da recomendação à Ana Alvarenga. O escritor Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, em Itabuna, na Bahia, tendo falecido em Salvador, capital do estado, em 2001. Viveu no Rio de Janeiro a partir de 1930, ingressando na Faculdade de Direito no ano seguinte. “O país do carnaval” foi o primeiro livro publicado, em 1932. Narra a tentativa frustrada de um intelectual nativo, com formação europeia, de participar da vida política e cultural do Brasil, que fracassa e volta à Europa. O segundo, “Cacau”, de 1933, teve vários exemplares apreendidos. No ano de 1936 ele foi preso por integrar a Aliança Libertadora Nacional - ALN -, junto com outros intelectuais, entre os quais Graciliano Ramos.

- Phorra, Athaliba, fazer política no Brasil equivale à sentença de morte, como aconteceu com a vereadora Marielle Franco, covarde e brutalmente assassinada a tiros, junto com Anderson Gomes, o motorista dela. O crime repercutiu no mundo. E por que e quem mandou matá-la?

- É, Marineth. O Brasil precisa sangrar profundo processo de transformação para construir irrefutável referência revolucionária, capaz de abortar qualquer tentativa neofascista de usurpar o poder popular. Mas, Jorge Amado, em 1937, lançou “Capitães de areia”. O livro foi censurado no Estado Novo e ele preso novamente. Refugiado na Argentina, em 1941, iniciou “O cavaleiro da esperança”, livro que relata a vida do líder comunista Luiz Carlos Prestes. Além daquele país, ele viveu exilado no Uruguai, na França, Praga e na antiga União Soviética. O jovem de 14 anos, um dos fundadores da Academia dos Rebeldes, que ajudou na renovação da literatura baiana, em 1951 ganhou o Prêmio Lenin da Paz.

- Athaliba, o conjunto da obra de Jorge Amado é estupenda, né?

- Marineth, a obra mostra forte preocupação político-social e denuncia a miséria e a opressão às classes populares. Os livros foram editados em 55 países, vertidos para 49 idiomas. Bem, se continuar falando de Jorge Amado, essa crônica não vai terminar. Portanto, a encerro com a saudação comunista: Jorge Amado, presente!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

Comentários


  • 29-07-2021 12:35:54 Julio Oliveira

    Simplesmente fantástica esta crônica! Parabéns!