Com a chegada do mês de Julho, inicia também o período de recesso escolar onde um grande número de jovens deixam as Repúblicas e Pensionatos nas cidades universitárias onde residem para visitar os pais e familiares. É um momento de grande emoção e, também de grande tensão. Entre abraços, beijos e um punhado de frases clichês, os jovens trazem à tiracolo novas ideias, hábitos e posturas inspiradas pelas leituras que acessaram na Faculdade e também pelos debates entre amigos. Manoel é um deles, já foi chegando em casa e avisando a mãe que não estava mais comendo nenhum tipo de carne e nenhum alimento composto por produtos de origem animal como leites, ovos e queijos. A mãe, é claro, deu um pulo pra trás e ficou com cara de interrogação.
- Uai, Manoelzin, que bicho te mordeu? Tu sempre amou a minha comida e agora vem pra cá com essa bobeira.
- Não é bobeira Dona Rosinha, isso se chama segurança alimentar e nutricional. E pra senhora não cair pra trás, senta aqui nesse banquinho que ainda tem mais.
- Ah, pronto, lá vem.
- Eu também não consumo mais açúcares e diminuí 85% a quantidade de sal, então nada de biscoito, bolos de caixinha, tempero pronto, suco de pózinho, chocolates e outras porcarias ultraprocessadas, visse?
- Armaria nãm, agora eu tô mesmo é lascada. O que eu vou dar pra esse menino cumê meu pai do céu? Olha, eu já entendi foi tudo, tu anda envolvido com essa gente da faculdade que gosta desses trem estranho de vegeriano, vegetaniano, como é mesmo o nome?
- Vegetariano mãe, rs. Mas eu não gosto de me rotular, o que me levou a fazer essas escolhas não foram meus colegas da faculdade, e sim a morte da tia Maricota.
- E o que “A” tem a vê com “B”, menino? Sua Tia Maricota morreu de diabetes.
- Pois é, mãezinha, ela morreu de diabetes aos 41 anos de idade. E eu fiquei tão chocado com isso que fui estudar na Iniciação Científica os efeitos das diabetes na população negra, e sabe o que eu descobri?
- Humm, o quê?
- Descobri que apesar das estatísticas indicarem que o nosso povo morre principalmente por homicídio, a mortalidade da população negra do Brasil acontece ainda mais por doenças cerebrovasculares, diabetes e infarto. A senhora sabia disso?
- Uai, eu não.
- Pois é, e não precisa passar por uma Faculdade pra saber que uma dieta desequilibrada é uma das causas das diabetes. Se alimentar mal não é a maior, nem a única, mas, é mais uma das vias da morte que nos devora.
- Nossa, agora eu tô me sentindo até mal. Será que eu tô contribuindo pro meu povo morrer?
- Claro que não, dona Rosinha. Deixe de ser boba, mulher. O problema é sistêmico.
- E quem é esse diabo de sistêmico?
- rsrs., não é uma pessoa mãe, é um Sistema que se beneficia ao criar em nós esses péssimo hábitos alimentares à base de fast-food (comida rápida) e junk food (comida porcaria) baseada em não alimentos, ou seja, em produtos sinteticamente quimicalizados, desnaturados, altamente refinados, processados e geneticamente alterados.
- Ah, então agora a gente só pode comer mato, é?
- Não é só comer mato, e nem gastar grandes quantias com opções veganas, é deixar de lado o refri e toda a comida vendida em embalagens, e consumir mais tudo o que brota da terra alface, banana, laranja, tomate... e, claro, feijão e arroz ao invés de macarrão. Nos educarmos e reeducarmos é fundamental e urgente, minha mãe.
- Olha, parece mais fácil do que eu pensava então... vem cá, e se eu fizer arroz, feijão, angú, couve refogadinha com alho, brócolis cozido no vapor, saladinha de pepino com rabanete e um suco com as laranjas do quintal, você vai gostar?
- Nohhhh que delícia. Tá vendo como a senhora aprende tudo rapidinho? Não tem segredo nenhum, se alimentar com segurança e soberania alimentar está no nosso DNA. Os nossos ancestrais africanos foram os pioneiros da Alimentação Saudável e eu tenho certeza que a gente pode recuperar esses hábitos.
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