“Iansã, cadê Ogum?/Foi pro mar
Mas, Iansã, cadê Ogum?/Foi pro mar
Iansã penteia os seus cabelos macios
Quando a luz da lua cheia clareia as águas do rio
Ogum sonhava com a filha de Nanã
E pensava que as estrelas eram os olhos de Iansã
Iansã cadê Ogum?/Foi pro mar
Mas, Iansã, cadê Ogum?/Foi pro mar
Na terra dos orixás, o amor se dividia
Entre um Deus que era de paz
E outro Deus que combatia
Como a luta só termina
Quando existe um vencedor
Iansã virou rainha da coroa de Xangô”
- Athaliba, “A deusa dos orixás”, música do Romildo Bastos e Toninho Nascimento, puxou as vendas do disco Claridade, da Clara Nunes, que bateu o recorde de vendagem feminina. O lançamento é de 1975 e, portanto, faz 50 anos neste 2025. Aquele ano foi marcante na carreira dela. Casou com o poeta e compositor Paulo César Pinheiro e cantou o samba-enredo da Portela, “Macunaíma, herói da nossa gente”, de autoria de David Corrêa e Norival Reis, no desfile da agremiação, na Avenida Presidente Antônio Carlos, que se classificou em 5º lugar.

- Marineth, dizem que o disco vendeu mais que 600.000 cópias. Foram exatas 1.125.410 unidades. Além de “A deusa dos orixás”, o disco tem “O mar serenou”, de Candeia; “Sofrimento de quem ama”, Alberto Lonato; “Juízo final”, Nelson Cavaquinho e Élcio Soares; “Tudo é ilusão”, Aníbal da Silva, Tufic Lauar e Éden Silva; “Valsa do realejo”, Paulo César Pinheiro e Guinga. No outro lado, “Bafo de boca”, João Nogueira e Paulo César Pinheiro; “O último bloco”, Candeia; “Ninguém tem que achar ruim”, de Ismael Silva; “Às vezes faz bem chorar”, Ivor Lancellotti; “Vai amor”, Monarco e Walter Rosa; e “Que sejas bem feliz”, de Cartola.
- Athaliba, a Clara Nunes, que tinha nome de batismo Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, nasceu 12/8/1942, em Cedro, distrito de Paraopeba, interior de Minas Gerais. Mais tarde, Cedro foi emancipada e renomeada para Caetanópolis. Faleceu 2/4/1983, no Rio de Janeiro, após ficar em coma, consequência de reação alérgica ao anestésico na cirurgia para varizes. Completaria 41 anos de idade. O velório foi na sede da Portela (na rua que ganhou o nome de Cara Nunes) e o cortejo fúnebre seguiu acompanhado por uma multidão até o cemitério São João Batista, em Botafogo.
- Marineth, poucos anos antes da morte dela, a entrevistara para o jornal O Fluminense, no qual eu escrevia sobre música, em página cheia, nas edições de final de semana. E, depois, na subchefia de reportagem da TV Globo, em 1983, participei da cobertura da internação dela por 28 dias no CTI - Centro de Tratamento Intensivo - da Clínica São Vicente, na Gávea. À época, Francisco Rodrigues, da gravadora Odeon, me abastecia de informações e anunciou sua morte.
- Athaliba, na história da música popular, a Clara Nunes é considerada uma das principais intérpretes, tendo contribuindo para a consolidação do samba como patrimônio cultural nacional. Podemos dizer que ela está eternizada, como diz versos e melodia da música “Um ser de luz”?
- Sim, Marineth. A música surgiu com o João Nogueira convencendo Paulo César Pinheiro a compor, a partir de um cantarolar do Mauro Duarte. Aí saiu o samba que homenageia a cantora de forma definitiva e que deixou muita saudade. Amiga, vamos cantar “Um ser de luz”?
“Um dia/Um ser de luz nasceu/Numa cidade do interior/E o menino Deus lhe abençoou/De manto branco ao se batizar/Se transformou num sabiá/Dona dos versos de um trovador/E a rainha do seu lugar/Sua voz então/Ao se espalhar/Corria chão/Cruzava o mar/Levada pelo ar/Onde chegava espantava a dor/Com a força do seu cantar/Mas aconteceu um dia/Foi que o menino Deus chamou/E ela se foi pra cantar/Para além do luar/Onde moram as estrelas/E a gente fica a lembrar/Vendo o céu clarear/Na esperança de vê-la, sabiá/Sabiá que falta faz sua alegria/Sem você meu canto agora é só melancolia/Canta, meu sabiá/Voa, meu sabiá/Adeus, meu sabiá/Até um dia”.
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