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OBRIGADO, PAULO GUEDES

ilustração cachorro atacando
Arte: Nani - 

Após o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar, na quinta-feira passada, que recebe elogios e agradecimentos quando vai ao supermercado, a população brasileira ficou curiosa para saber que supermercado o ministro anda frequentando.

Os moradores de Brasília se organizaram em grupos e visitaram todos os estabelecimentos do Distrito Federal, na esperança de encontrar ao menos um com preços que merecessem elogios ao Posto Ipiranga.

Em vão. O máximo que encontraram foi um supermercado, na Brasilândia, onde o preço do pescoço da galinha estava em promoção. Congelado.

Já o presidente Jair Bolsonaro, que adora contradizer o seu ministro, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, classificou a alta dos preços de PA.TI.FA.RIA, e responsabilizou a pandemia da covid-19 e a política do isolamento social pelo aumento no preço dos alimentos.

- A culpa é dos governadores esquerdistas, taokey? Com a política do 'fique em casa', 'feche tudo', eles estão acabando com a economia do país. Quem é que está com essa política do 'fica em casa'? Não sou eu - retaliou o presidente.

Um jornalista rebateu o presidente:

- Desculpe, presidente, mas o aumento no preço do arroz está ligado a cotação do dólar. Com a valorização da moeda norte-americana, a exportação do grão passou a ser mais vantajosa para os produtores. E o aumento no preço da carne começou antes mesmo da pandemia.

- É isso daí. E o que eu tenho a ver com a alta do dólar? A culpa é do Biden - rebateu o presidente.

- O déficit da balança comercial e a sua interferência na Petrobras aumentou a pressão no valor da moeda americana, piorando a inflação, presidente. Em 12 meses, o dólar subiu 30% em relação ao real. Nossa moeda é a que mais se desvaloriza no mundo - disse um repórter.

Para dramatizar seu argumento, o presidente olhou para os apoiadores no cercadinho, e disse:

- Se virem! Troquem o arroz por macarrão. A carne pelo pescoço da galinha. Vão ficar chorando até quando? Parem de mi-mi-mi!

Os apoiadores foram ao delírio:

- Pescoço! Pescoço! Pescoço! Abaixo a carne! Abaixo o arroz!

O presidente continuou com o dramalhão:

- O povo precisa colaborar com o governo, taokey? Eu tomo café da manhã com pão e margarina.

- Até o pão tá caro, presidente. O trigo subiu 57,38% - disse, outro jornalista.

- Se não tem pão, comam brioches - ironizou.

Um apoiador, levantou a mão, pedindo a palavra:

- Presidente, há duas semanas que lá em casa a gente só come pés de galinha…

- E daí? Você quer comer o quê, picanha?

- Claro que não. O país em primeiro lugar - desculpou-se o bolsominion.

O presidente foi ainda mais incisivo:

- Vamos lá, pegue uma caneta e vamos dizer adeus a todos os produtos que estão subindo de preço. Vamos cortar tudo!

- Mas, presidente, a gente já eliminou praticamente tudo.

- Sempre se pode achar mais alguma coisa.

Um apoiador, com cara de desânimo, rebateu:

- Espero que possa ser substituído por alguma coisa que se possa comer cru, presidente. O gás está custando 100 reais.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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