Rio - “Crônica tem essa vantagem: não obriga ao paletó-e-gravata do editorialista...
Não exige de quem a faz o nervosismo saltitante do repórter, responsável pela apuração do fato na hora mesma em que ele acontece; dispensa a especialização suada em economia, finanças, política, esporte, religião e o mais que imaginar se possa...
Sei bem que existem os cronistas especializados, mas, a crônica de que estou falando é aquela que não precisa entender de nada ao falar de tudo. Não se exige do cronista geral a informação ou o comentário preciso que cobramos dos outros. O que lhe pedimos é uma espécie de loucura mansa, que desenvolva determinado ponto-de-vista não ortodoxo e não trivial, e desperte em nós a inclinação para o jogo da fantasia, o absurdo e a vadiação de espírito. Claro que ele deve ser um cara confiável, ainda na divagação...
Fazer mais do que isso seria pretensão descabida de sua parte. Ele sabe que seu prazo de atuação é limitado: minutos no café da manhã ou à espera do coletivo”.
Com esse espírito, o cronista e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade resumia a obrigação do cronista, em sua última crônica “Ciao” escrita no “Jornal do Brasil”, em 29 de setembro de 1984.
Drummond foi o primeiro poeta que li. Quando conheci sua prosa - tão grande e importante quanto sua poesia - abandonei um pouco o poeta e me apaixonei pelo cronista. Mas nunca abandonei o artista.
Tive o prazer de conhecê-lo. Apertar sua mão e receber dele um autógrafo que guardo até hoje, emoldurado.
Carlos Drummond de Andrade nasceu na cidade de Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902 e faleceu no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987.
Começou a carreira como colaborador do ‘Diário de Minas’. Em 1925, fundou 'A Revista’, órgão modernista mineiro. Funcionário público, transferiu-se para o Rio em 1934.
Publicou diversas obras de poesia e prosa, sendo considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX. Como jornalista escreveu na ‘Tribuna da Imprensa’ e foi cronista do ‘Jornal do Brasil’ de 1969 a 1984.
De suas tiradas, chamadas de pipocas, que Drummond escrevia no ‘Jornal do Brasil’, saiu o livro “O Pipoqueiro da Esquina”, ilustrado pelo amigo Ziraldo, em 1981.
De temperamento reservado, pouco saía de casa e não gostava de dar entrevistas. Drummond morreu poucos dias após a morte de sua filha.
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