Rio - Leio no jornal que estão abertas as inscrições para a 7ª edição das Olimpíadas de Língua Portuguesa.
Quer dizer que se disputam Olimpíadas de Língua Portuguesa? Eu não sabia, juro. Logo eu, um apaixonado pela Língua Portuguesa.
No mesmo jornal, encontrei uma crônica do escritor e professor universitário, João Anzanello Carrascoza*, que tem tudo a ver com o tema, e reproduzo aqui:
PONTOS DE VISTA
Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de Português quando estourou a discussão.
- Esta história já começou com um erro - disse a Vírgula.
- Ora, por quê? - perguntou o Ponto de Interrogação.
- Deveriam me colocar antes da palavra “quando” - respondeu a Vírgula.
- Concordo! - disse o Ponto de Exclamação. - O certo seria: “Os sinais de pontuação estavam quietos dentro do livro de Português, quando estourou a discussão”.
- Viram como eu sou importante? - disse a Vírgula.
- E eu também - comentou o Travessão. - Eu logo apareci para o leitor saber que você estava falando.
- E nós? - protestaram as Aspas. - Somos tão importantes como vocês. Tanto que, para chamar a atenção, já nos puseram duas vezes neste diálogo.
- O mesmo digo eu - comentou o Dois-Pontos. - Apareço sempre antes das Aspas e do Travessão.
- Estamos todos a serviço da boa escrita - disse o Ponto de Exclamação. - Nossa missão é dar clareza aos textos. Se não nos colocarem corretamente, vira uma confusão como agora!
- Às vezes, podemos alterar todo o sentido de uma frase - disseram as Reticências. - Ou dar margem para outras interpretações…
- É verdade - disse o Ponto. - Uma pontuação errada muda tudo.
- Se eu aparecer depois da frase “a guerra começou” - disse o Ponto de Interrogação - é apenas uma pergunta, certo? - Mas se eu aparecer no seu lugar - disse o Ponto de Exclamação - é uma certeza: “A guerra começou!”
- Olha nós aí de novo - disseram as Aspas.
- Pois eu estou presente desde o comecinho - disse o Travessão.
- Tem hora em que, para evitar conflitos, não basta um Ponto, nem uma vírgula, é preciso os dois - disse o Ponto e Vírgula - E aí entro eu.
- O melhor mesmo é nos chamarem para trazer a paz - disse a Vírgula.
- Então que nos usem direito! - disse o Ponto Final.
E pôs fim à discussão.
*João Anzanello Carrascoza nasceu em Cravinhos, interior de São Paulo, 1962. Estreou na literatura com o livro “Hotel Solidão'” (1994). Publicou vários livros de contos, como “Duas tardes” (2002), “Espinhos e alfinetes” (2010), “Amores mínimos” (2011), “O volume do silêncio” (2006, prêmio Jabuti) e “Aquela água toda” (2012, prêmio APCA).
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