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A FAMÍLIA MANDIBLE

Rio - Acabei de ler um romance tão perturbador quanto divertido:A Família Mandible - Editora Intrínseca - 444 pgs.

Lionel Shriver, a autora, como se tivesse uma bola de cristal - lá em 2016, quando 'A Família Mandible’ foi escrito - traz em seu livro o caos, o pânico, o desemprego, doenças intratáveis e incuráveis. 

Inteligente, sarcástica, distópica-realista, ácida e bem-humorada a história é um retrato profundamente assustador, perturbador e provável demais para o mundo em que vivemos hoje. 

Como resultado, temos cumprimentos distantes, sem apertos de mão ou beijos no rosto. Algo bem próximo ao momento em que vivemos com a epidemia do coronavírus.

Na saga, da noite para o dia, o dólar despenca e, além do valor, perde também seu prestígio: uma nova moeda internacional, o bancor, chega para substituí-lo.

livro A Família Mandible
Divullgação. 

Uma guerra fria de escala mundial reestrutura a ordem socioeconômica do planeta, criando novos eixos de poder. A União Europeia se desfaz, a China é agora a maior potência global e o longo período de prosperidade dos Estados Unidos chega ao fim. 

No meio da crise econômica que se agrava, aumentam as questões sanitárias, de fome, de miséria e de criminalidade.

A crise atinge, ainda, os setores culturais e chega ao mercado editorial. Todos vivem totalmente conectados, o sistema faliu e, com ele, livros físicos são raridades que apenas os idosos e colecionadores têm apego. Está tudo no mundo online, em versões pirateadas e gratuitas. Ninguém lê em papel.

Uma cabeça de repolho passa a custar 20 dólares, a água é racionada e o ritual matinal já não inclui café nem jornais.

Ambientada em um futuro bem próximo - 2029-2047 -, a saga dos Mandible é o retrato de um apocalipse menos catastrófico que o vírus, mas igualmente perturbador: a completa ruína financeira.

Em A família Mandible, Shriver narra os percalços de um típico clã norte-americano moderno, outrora próspero, levado à ruína.

Nos Estados Unidos da América, um país outrora considerado a maior potência mundial, um ataque coordenado ao dólar americano faz a moeda desvalorizar, os preços dispararem e a vida dos americanos fica insustentável.

O tiro fatal vem da moratória: o governo age, e todos os americanos devem abrir mão de toda e qualquer filigrana de ouro que possuir. Qualquer um que tivesse uma reserva de dinheiro, já não tem mais. A ideia de riqueza foi totalmente usurpada da divisão de classes. Quanto mais se tinha, obviamente, mais se perdeu.

É isso o que acontece com os Mandible. A partir daí, a história vai ganhando cenário pós-apocalíptico. Nada relacionado a zumbis, mas tipo pessoas invadindo casas, lojas, falta de produtos nos mercados, água potável, entre outras coisas.

E tudo gira em torno da questão do dólar. De certa maneira, a derrocada da moeda americana de fato, é o mote do livro. 

A leitura é daquelas que te prende numa teia, você não consegue se desligar da história nem quando ela termina. 

Lionel Shriver nasceu em 1957 na Carolina do Norte, Estados Unidos. Formada e pós-graduada pela Universidade de Columbia, publicou além de ‘Precisamos falar sobre o Kevin’ e ‘O mundo pós-aniversário’, ‘The Female of the Species’, ‘Checker and the Derailleurs’, ‘Ordinary Decent Criminals’, ‘Game Control’ e ‘A Perfectly Good Family’. Como jornalista, já colaborou para veículos de destaque como ‘The Guardian’, ‘The Wall Street Journal’, ‘The Independent’ e a revista ‘Economist’.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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