Rio - Sem vacina, sem plano, sem política externa, e sem esperança, o Brasil atingiu o triste recorde de 4.211 mortes por Covid-19 registradas em 24 horas.
Com 2022 já apontado na curva, o país precisa começar a pensar na vida sem Bolsonaro, ou seja, na vida “pós-Bolsonaro”.
Ou no que sobrar dela.
O governo já não governa, o presidente já não preside, mas a economia não está apenas sem governo e sem presidente da República.
A economia está sem ministro da Economia; a saúde está sem ministro da Saúde; os direitos humanos estão sem ministro dos Direitos Humanos; as relações exteriores está sem ministro da Relação Exterior; o meio ambiente está sem ministro do Meio-Ambiente…
Eles existem, seguem lá batendo ponto, dando entrevista, recebendo salário, mas, na prática, ninguém mais está dando bola, atenção ou crédito para o que eles falam, escrevem ou prometem.
Afinal, o que eles dizem não vale nada. Eles falam uma coisa e o presidente diz outra. Eles afirmam e o presidente desmente.
Nessa semana, com Lula nos calcanhares; acuado pela maioria dos brasileiros que reprovam seu desempenho na pandemia; pelos governadores e prefeitos que cobram coordenação nacional da crise sanitária; pelo Supremo que freia suas idiossincrasias; pelo insaciável apetite do Centrão e amargando mais de 4 mil mortes por dia, o presidente da República decidiu criar um comitê de enfrentamento à covid-19.
Pressionado, Bolsonaro agora pensa em fazer, por pressão, o que deixou de fazer por opção.
O CUECA (Comitê Unificado de Enfrentamento a Covid com Ação) como seria chamado, unificaria as ações no combate à pandemia.
Bolsonaro compareceu à reunião usando máscara e discursando em favor da vacina e do isolamento social. Quase não foi reconhecido. “Parece outra pessoa”, comentaram os presidentes da Câmara e do Senado.
O presidente falou sobre o combate à pandemia, o enfrentamento à crise sanitária, enalteceu as vacinas, solidarizou-se com as famílias dos mortos por covid-19; não atacou os prefeitos e governadores, não receitou cloroquina e expressou-se sem o costumeiro negacionismo.
Bolsonaro tranquilizou os brasileiros. Disse que 2021 seria “o ano da vacinação”. Renegando o próprio negacionismo disse que desde o início da pandemia entrou no consórcio Covax-Facility, da OMS para adquirir as vacinas disponíveis: “Vamos comprar todas as vacinas aprovadas pela Anvisa. As do Butantan; as da Fiocruz; a CoronaVac, do Dória; a da Pfizer; a da Janssen e até a BozoVac, do ministro da Ciência, o astronauta Marcos Pontes - disse.
Ou seja: Bolsonaro estava completamente fora de si.
Ao saber da reunião, achei que já estava na hora de, nós jornalistas, pararmos de procurar só o lado ruim do presidente, esquecermos seus erros do passado e focarmos no “Novo Bolsonaro”.
No entanto, no dia seguinte, Bolsonaro mostrou que o presidente da reunião não era real.
Bolsonaro voltou a ser Bolsonaro.
- Presidente, o pessoal que veio negociar as vacinas já chegaram. - disse o secretário.
- Que pessoal? Que vacina? Eu não quero comprar vacina. Zero! Eu já disse que não acredito em vacina, não vou tomar vacina e não vou obrigar meu povo a tomar vacina.
- Mas, presidente - ponderou o secretário -, ontem na reunião o senhor disse que…
- Pois eu desdigo. Quem manda sou eu! Não vou gastar dinheiro com vacina comunista. Nada. Zero. Taokey?
- O senhor ontem na reunião defendeu a vacinação e o distanciamento social.
- Isso daí foi só para acalmar o Centrão.
- Mas, presidente, o que vão pensar os prefeitos e governadores dessa sua reviravolta? As cidades estão sem leitos, as mortes estão aumentando. O senhor não vai fazer nada?
- Manda mais um carregamento do “kit-covid” para todos eles.
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