Coluna

EM BUSCA DE UM ANJO

Algumas pessoas creem na existência de anjos que nos protegem, individualmente, tendo cada um de nós um anjo para chamar de seu.

Depois que Deus entregou a uma força do mal um dos seus mais crentes, Jó, permitindo que se fizesse tudo a ele, a não ser sua morte, foi estabelecido que Deus estava certo em acreditar na força do seu poder, ancorado na força de Jó em acreditar Nele.

Qual seria, então, a formalização que Deus estabeleceu para os seus anjos quando deu a eles a incumbência para serem nossos protetores? É certo que à força do mal foi dada total liberdade. E nossos anjos teriam essa liberdade?

MULHER DE FRENTE AO MAR
Foto: Vale Zmeykov on Unsplash. 

Jó se perguntava por que Deus permitiu que ele sofresse tanto. E nós, sofremos? Ou a presença dos anjos seria apenas para nos guiar, desde que estejamos dentro das regras do jogo? Não há nenhuma garantia sobre nada disso. Seja a existência dos anjos, seja a missão que lhes tenha sido dada.

Quando estamos mal das pernas na vida, pedimos a Deus, ou ao nosso anjo, uma saída, uma porta por onde possamos seguir e passar por cima das nossas adversidades. Nem sempre somos atendidos, talvez porque a porta de saída esteja ao nosso alcance, e não há necessidade de Deus, ou algum anjo, nos mostrar, apenas não queremos enxergar ou aceitá-la. E o que um anjo poderia fazer então?

Até porque quando construímos nossos problemas, entramos de cabeça neles, não estabelecemos uma porta de saída, e, nesse caso, cabe a quem pariu o problema que o embale.

Mas, têm horas em que algumas coincidências acontecem, como se alguém mexesse no tabuleiro de xadrez das nossas vidas, e na de outros, que as coisas parecem se encaixar. Alguns atribuem às obras do acaso, à sorte, a um milagre, enfim, há sempre alguma explicação. E, até mesmo, não sentimos nossa força própria de alcançar a saída, aquela que menosprezamos, não imaginando a nossa capacidade de reação.

Mas, têm outras. Aquelas que vêm do nada, do nada mesmo, que a gente duvida dessas coisas, porque é coincidência demais. E são coisas que acontecem uma vez na vida. E, nessa hora, precisamos de uma reflexão: Devemos menosprezar um presente que, literalmente, cai do céu? E devemos nos perguntar, também, se aprendemos a lição?

Pois é. Anjos talvez sejam professores que dão uma mãozinha, mas exigem um aluno aplicado e interessado. Errar uma vez, vá lá. Duas? Nem pensar. Aí, não há anjo que dê jeito.

Podemos imaginar anjos nas nossas vidas, e isso é muito bom! Que haja seres divinos encarregados de nos proteger! Sobrecarregá-los, outro tanto, já se torna uma tarefa ingrata, até mesmo para os anjos.

A decisão é pensar duas vezes antes de fazer. Não dar trabalho para eles, nossos professores. Tirando a hora final, mas em um sofrimento qualquer, que as mãos deles nos afaguem, porque não são capazes de milagres, creio eu. E se a coisa for coincidência demais, dessas que nem você acredita, pense bem: Deve ser um anjo, e parece que você não deu muito trabalho a ele, na sua vida, e tem alguém lá em cima que gosta de você.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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