Coluna

E SE O NOVO CHEGAR?

Entrar em uma sala que você nunca viu, arriscar colocar uma cor na sua parede, tão confortável o branco era, imagine! Mudar de bairro, de cidade, de país! O novo é como entrar em uma floresta onde você nunca foi antes. Mas, o novo também é percorrer as areias de uma praia deserta onde somente seus pés possam identificar a presença humana, e o seu olhar procura por perigos que possam existir, receber o novo gadget, o eletrônico que precisa de manual, e que vai te surpreendendo com a capacidade dele, entrar em águas límpidas de um rio e sentir uma água transparente.

O novo assusta por ter uma fronteira desconhecida, o velho, o habitual, é confortável.

mãos segurando ramo de flor
Foto: Ardi Evans on Unsplash

O novo também existe quando nossa mente se abre e deixa alguma nova experiência existir. São os labirintos do seu corpo a perceber novos cheiros, novos sabores, excitações.

Experimentar o novo é aprender, é uma alfabetização de um outro mundo.

Assim são, também, os projetos da humanidade. Grandes mudanças sociais existem para que experimentemos. Se a confusão pelo novo existe em pequenas coisas, e sem perceber ficamos confusos, existe um conforto porque podemos retroceder ao velho velho. Imagine percorrer os caminhos novos sem perspectiva de retorno. Determinados a viver em um outro planeta, a construí-lo, sem que se possa retornar à velha Terra azulada.

As mudanças na sociedade são assim, conturbadas, confusas, experimentações, mas esperançosas. Para aqueles que se guardam nos chavões de que o correto, o mais seguro é o que está aí, são aqueles que têm muito mais a perder, porque no velho comandam, têm a perder o medo de mudar, e têm o medo de não poder mais conduzir o outro, aprisionam para continuar comandando.

Pode-se se assegurar que aquele que mais tem medo é aquele que tem muito, sejam bens materiais ou poder, e a única arma é implantar a mentira, a bazófia e procurar cooptar e contaminar tudo. A lógica é perfeita quando alguém que tem um percentual grande da riqueza incentiva aos que não têm a lutar por ela. A pergunta é: De quem esse futuro vencedor vai tirar? Daquele que é igual, nunca daquele que está acima. E constroem mais seres medrosos, ou falsamente esperançosos.

Por isso, sociedades que tentam uma mudança parecem confusas, os caminhos do novo são virgens, são originais, são nunca vistos. E para que eles não progridem é preciso sabotá-los, primeiro com mentiras, depois com a força.

A presença das cinzas não abole a possibilidade de o fogo voltar.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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