Opinião

Eduardo exibe marco da saúde, o Zé Gotinha, armado com fuzil

“Eu acho uma pena que essa imprensa mequetrefe que a gente tem aqui no Brasil fique dando conta de cobrir apenas a máscara. ‘Ah, a máscara, tá sem máscara, tá com máscara’. Enfia no rabo gente”. Eduardo Bolsonaro.

Destilando odiosidade por todos os poros, após postar vídeo em rede social esbravejando contra o uso da máscara facial de proteção ao COVID-19, o deputado Eduardo Bolsonoro (PSL-SP) exibiu no Twitter o Zé Gotinha, marco da saúde, com fuzil israelense tipo M-16, como se fosse miliciano. O parlamentar, anteriormente tendo mandado a população “enfiar a máscara no rabo”, violentou a arte do artista plástico Darlan Rosa, criador do personagem, em 1986, utilizado na campanha de vacinação contra a poliomielite.

A atitude de Eduardo Bolsonaro, considerada bestial, se deve ao fato da irritação dele ao ser questionado sobre as críticas que a comitiva brasileira recebeu por falta do uso da máscara na recente viagem a Israel. Na ocasião, a comitiva que buscava conhecer o EXO-CD24 - o spray nasal que é estudado como medicamento para o COVID-19 - foi proibida de entrar no hospital e o encontro com médicos israelenses aconteceu num hotel. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, foi repreendido ao vivo e obrigado a colocar a máscara. A despesa da viagem da comitiva, claro, foi custeada através dos impostos que pagamos.

Zé Gotinha
Zé Gotinha. símbolo de imunização, foi transformado em miliciano e postado por Eduardo Bolsonaro em rede social, após mandar os brasileiros enfar a máscara no rabo. Reprodução

E, sobre Zé Gotinha, a reação de Eduardo Bolsonaro está vinculada ao discurso do ex-presidente Lula que indagou por onde andava o símbolo do Programa Nacional de Imunizações, na sua primeira manifestação pública no Sindicato dos Metalúrgicos, após ter os direitos políticos restituídos pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. “Cadê o Zé Gotinha? Cadê o nosso querido Zé Gotinha? O Bolsonaro mandou embora porque pensou que ele era petista (...) E Cadê o Zé Gotinha? Acabou, disse ele”. E então o parlamentar fez reaparecer o símbolo da vacinação com fuzil na mão, cujo corpo é uma seringa de injeção. A bandeira do Brasil ilustra a charge com capa, associando-o às bandeiras pró-armas fascistas que o governo defende.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que ironizou a deturpação do personagem, disse que “depois de sabotar a vacinação e mandar os brasileiros ‘enfiar a máscara no rabo’, ele agora transformou o Zé Gotinha em miliciano”. Já o criador da charge protestou afirmando que “é tudo o que eu não penso, pois o personagem é educativo e não há nada educativo numa arma”.

Em dezembro passado, o presidente Jair Bolsonaro esteve diante do Zé Gotinha, durante o evento de lançamento do Plano Nacional de Imunização, em Brasília. Zé Gotinha usava máscara. E o Bolsonaro não. Então, quando estendeu a mão para cumprimentá-lo, Zé Gotinha recusou e fez sinal de positivo para cima, mantendo distanciamento social, evitando o contato físico. Não se avexando pela falta da proteção contra o COVID-19, o presidente na maior cara de pau abarcou o mascote da saúde com um dos braços. 

O Zé Gotinha é colecionador de títulos. Obteve o certificado de erradicação da doença da paralisia infantil, que era representado pelo vilão Monstro Perna de Pau, nas propagandas de TV. Simbolizou dezenas de campanhas de imunização em mais de três décadas, contra tétano, gripe, sarampo, rubéola, etc. O nome foi escolhido em concurso com crianças de todo o país e a charge estrelou desenhos animados. Mereceu até música da apresentadora Xuxa. O mascote chegava às aldeias isoladas da pátria amada. A partir de 2020 foi colocado no arquivo morto do Ministério da Saúde.

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