- Athaliba, qual data ocê sugere para comemoração do Dia de São Tibira, índio tupinambá gay morto com tiro de canhão em 1614, por influência da Igreja Católica, devido a sua orientação sexual? Ele é considerado “primeiro mártir da homofobia no Brasil” que, segundo defensores da proposta de torná-lo santo, teve registro feito pelo frade capuchinho Yves d’Évreux, entomólogo que integrou expedição francesa ao Brasil Colônia. O sociólogo e antropólogo Luiz Mott, docente da Universidade Federal da Bahia e fundador do Grupo Gay da Bahia, lidera o caso sustentado no livro “História das coisas mais memoráveis acontecidas no Maranhão nos anos de 1613-1614”, do frade francês.
- Marineth, “devagar com o andor que o santo é de barro” Não me apresse em sugerir data para comemoração do Dia de São Tibira. Antes, por favor, intere-me do caso.
- Athaliba, a história do índio é desencavada por Luiz Mott que, há seis anos, publicou “São Tibira do Maranhão – Índio gay mártir”, contextualizando o caso, com detalhes sobre a execução do personagem com tiro de canhão. Já conta com apoio de ativistas LGBTi e do arcebispo Sérgio Muricy, da Santa Igreja Celta do Brasil, instituição cristã independente. Muricy, que é historiador, contou à BBC News Brasil que “Tibira chegou a ser suplicado de forma cruel e sem direito de defesa, sendo assassinado por sua orientação sexual”.
- Marineth, o caso ainda vai dar muito “pano prá manga”, muito blá, blá, blá, durante 2021.
- Athaliba, pode apostar nisso. O caso veio à tona ao apagar das luzes de 2020, tendo o Muricy, que escolheu nome religioso de dom Bernardo da Ressurreição, reconhecendo o martírio e a santidade do indígena. E Mott, resguardado por grupos de luta por direitos homossexuais, já anunciou que encaminhará à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – petição para a Igreja Católica “pedir, publicamente, perdão pela execução de Tibira e instaurar processo para a canonização dele”.
- Marineth, a campanha vai enfrentar ferrenha resistência. Imagine qual pode ser a opinião do mito pés de barro que ocupa a presidência da República e que se diz cristão, defendendo até os dias de hoje o slogan da campanha “Brasil acima de tudo; Deus acima de todos”.
- Phorra, Athaliba, é pura sacanagem ocê trazer o mito pés de barro para esse assunto.
- Qualé, Marineth. Já diz o ditado popular que “quem tem c** não faz trato com pic*”.
- Athaliba, o trem é doido. O mito pés de barro, entre declarações machistas, racistas e de ódio às minorias, afirmou que “prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”.
- Marineth, os argumentos para tornar o índio Tibira do Maranhão santo são consistentes?
- Athaliba, o antropólogo Mott defendeu em entrevista à BBC News Brasil que o índio seja reconhecido como “o primeiro mártir da homofobia no Brasil”, cobrindo sua história de simbolismo “em alusão aos crimes de homofobia ainda hoje praticados no país” Argumenta que a “execução foi arbitrária e sem autorização do papa, nem da Inquisição”, consentida pela expedição religiosa francesa com o frade capuchinho Yves d’Évreux, que viveu de 1577 a 1632.
- O que detalha o frade capuchinho francês, Marineth?
- Athaliba, o antropólogo diz que a narrativa do frade expõe “a visão altamente etnocêntrica e o preconceito da moral cristã contra a sodomia, além de sua ardilosa tentativa de justificar eticamente a pena de morte contra o infeliz selvagem pecado”. O capuchinho relatou que “um pobre índio (sodomita) bruto mais cavalo do que homem fugiu para o mato por ouvir dizer que franceses o procuravam e aos seus semelhantes para matá-los e purificar a terra das maldades por meio da santidade do Evangelho, da candura da pureza e da clareza da religião Católica, Apostólica, Romana”.
- Tempos nebulosos né, Marineth? Tibira do Maranhão tem milagres comprovados?
- Não, Athaliba. Para ser santo, obrigatoriamente, não é preciso comprovar milagre. Chefes de aldeias indígenas assistiram a execução do Tibira do Maranhão, pés atados com ferro, tendo o corpo dilacerado com o tiro de canhão. Talvez os europeus, à época, fizessem vistas grossas aos casos de homossexualismo em seu território. Mas, a diversidade sexual e lascívia exacerbada dos ameríndios no Brasil eram intoleráveis. Cruza o arco-íris para 2021 com essa, amigo!
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