Ele sempre dava as ordens e ela obedecia, e como um imperador dizia: Faça! E ela, sempre achando que não sabia, considerava sempre se poderia. Atrás dele havia uma arma poderosa, vinda de algum poder oculto, que transformava a sua imagem mais forte, tonitruante e agressiva, como se sempre dissesse: Mando! E ela nem contestava se de fato ele mandaria. Até porque, lhe parecia, havia uma ordem vinda do infinito distante, que apenas queria dizer fazer, embora considerasse que só mandar não fosse o bastante, sempre de mais alguém se serviria.
Era uma convivência atroz de alguém maior que sempre era econômico nas palavras, como se o mundo apenas funcionasse no registro de pequenas e minúsculas frases. E ela sempre considerava se além do mero fazer do que se queria, não existiria mais mundo onde por certo melhor viveria. E então ia assim vivendo em busca de um futuro nem sempre presente, mas sempre pretérito.
Outro dia a exclamação veio acrescentada de algo mais, já não mais dizia ele: Faça! Evoluiu para Faça-se! e não mais lhe dando ordens, mas, achando que as soluções que ele propunha precisavam de outra forma de ajuda, sendo que ela percebeu que a ajuda seria a dela, e ele achando que a humilharia, obedecendo e tentando viabilizar ordens loucas, vindas da loucura, e que no fundo tudo era condicional e de alguém dependeria. Afinal, tudo viria do que ela fizesse, e algo subjuntivo veio à tona.
A loucura é algo hipotético, aquilo que está no subconsciente, um desejo interno, coisa subjuntiva vinda de quês e de quandos, mas, foi se perguntando: Afinal o que poderia fazer com o se, o ser novo que o imperativo usara se julgando mais do que perfeito. Foi então que ela que estava sempre subjugada, descobriu naquele pequeno se, o ser de seus anseios, e a partir dali, com a experiência de fazer coisas impossíveis, incorporou-o, aquele que era subjugado, e atrelado a uma ordem por um traço e o trouxe a um lugar mais nobre, embora um pretérito ainda imperfeito. E passou a se perguntar: Se ela pudesse?
Abandonou um futuro sempre preterido, e procurou a realidade e terminou se perguntando: E se fizesse? Poderia?
Então que o imperativo perdeu o mando, quando deu a dica errada. Havia algo muito além do que ele sabia, e o muro foi escalado, e fez que percebesse que o presente dado era um futuro mais que perfeito, comemorado com esmero de que realmente poderia, se, para tanto, quisesse.
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