Coluna

O GENIAL LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

Luiz Fernando Veríssimo
Arquivo pessoal

Rio de Janeiro - Sou fã do Luis Fernando Veríssimo.

Fã mesmo. De pedir autógrafo, tirar foto e copiar descaradamente.

Comecei em jornal fazendo de tudo. Escrevia, ilustrava, fazia cartuns, charges, tiras…

Um dia, li que, quando começou no jornalismo, Veríssimo também fazia de tudo na redação, até horóscopo. 

Meio preguiçoso - como eu -, para ganhar tempo, ele usava a mesma previsão. O touro de hoje era o leão de amanhã. “Porque as pessoas só leem o próprio signo. Não é possível que leiam todos os signos todo dia”, diz.

Também com jeito para desenhar, criou As Cobras, tirinhas publicadas ainda hoje em jornais, embora não as desenhe desde 1999. “Não ficava bem um homem de 60 anos desenhando cobrinhas.”

Veríssimo, como eu, tinha que, três vezes por semana mandar suas crônicas para os jornais. 

“O bom é que a crônica dá certa liberdade para o autor.” E a inspiração? “A gente aproveita de tudo. Tudo pode ser tema de uma crônica, até mesmo uma braguilha aberta”, conta.

Mas, até o genial Veríssimo, às vezes, ficava sem assunto. Então ele, no lugar do texto, mandava seus cartuns ou suas tiras. 

Já usei isso, muitas vezes, aqui n` O Folha de Minas. Sem inspiração, ou tempo, às vezes preencho o espaço da coluna com frases, qualquer dia desses, vou mandar minhas tiras, só por inveja do Veríssimo.

Hoje, fiquei o dia todo sem internet. Não deu para escrever a coluna; vou seguir o conselho do Veríssimo e preencher o espaço com um poema meu, espero que gostem.

 
GÊNIOS E LOUCOS

Há um gato sobre a mesa
Lambendo a orelha de Van Gogh
Lá fora,  Hemingway carrega seu rifle
Ouço um tiro

Num beco atrás do bar
Onde o escritor jaz bêbado 
Os cães lambem a cara de Faulkner
Ouço um latido

Burroughs e Mailer 
Matam suas mulheres
E são perseguidos pelo 
Padre Brown, detetive de Shesterton
Ouço passos

Sábato e Jorge Luis Borges
correm de Videla
Neruda e Bolaño de Pinochet
Zweig e Freud  de Hitler
Ouço tiros

Sócrates bebe cicuta
Num boteco na Grécia
Aristóteles é expulso de Atenas
Platão é vendido como escravo
Ouço arrastarem correntes

Bukowski come uma puta
Num quarto imundo
Beethoven, mesmo surdo,
reclama do barulho
Apago a luz

(Ediel)

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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