Coluna

O DIPLOMA DO MINISTRO

Rio de Janeiro - Quando todo mundo já estava perdendo a esperança de que Jair Bolsonaro indicasse alguém competente para o Ministério da Educação, eis que, como um Houdini, o capitão tirou da manga o nome do professor Decotelli.

Exultante, Bolsonaro mostrou a foto do professor ao Secretário Fabio Wajngarten, e auto-elogiou-se-a-si mesmo:

- Pensa numa ótima indicação!? Quero ver a esquerda e essa imprensa marronzista criticar a indicação do ilustríssimo Carlos Alberto Decotelli: negro, educador, professor, doutor, graduado, pós-graduado e íntegro. 

E tem mais: como bem disse sobre essa “cuestão” daí, a nobre deputada Carla Zambelli; ele não precisou de cota para conseguir esse currículo maravilhoso. Cota é coisa pra vagabundo que não quer estudar! - berrou.

decotelli

- Ufa! É bom que seja - respirou aliviado o secretário. - Porque desde o início do seu governo, vários ministros já demonstraram incompetência e alguns tiveram inconsistências apontadas em seus currículos, e não hesitaram em florear suas experiências pregressas.

O colombiano, Ricardo Vélez Rodriguez, seu primeiro Ministro da Educação, que mal falava português, tinha 22 erros em seu currículo Lattes.

Abraham Weintraub também traz inconsistências em seu currículo. Em relação a sua produção, foram encontrados dois artigos idênticos publicados em periódicos diferentes que exigem ineditismo do material – prática conhecida no meio acadêmico como autoplágio.

Damares Alves, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, além de ver Jesus na goiabeira, também viu em seu currículo os títulos de “mestre em educação”, “em direito constitucional e direito da família”, que não tinha.

Ricardo Salles, o ministro terraplanista do Meio Ambiente, não é mestre em direito público pela Universidade Yale, título atribuído a ele há anos em seus artigos.

De repente, um general invade o gabinete do presidente e anuncia:

- Presidente, suspenda a posse do novo Ministro!!

- Como? Por quê?

- A imprensa descobriu que ele não tem o título de doutor pela Universidade Nacional de Rosario, na Argentina…

- Isso é mentira da imprensa! Pa-ti-fa-ria, talkey!

- E mais: - continuou o general. - Seu pós-doutorado pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha, também é fake.

- Que porra é essa!

- E outra: há ainda, a denúncia de plágio em pelo menos quatro trechos da dissertação de mestrado e em textos acadêmicos assinados pelo professor Decotelli.

Bolsonaro socou a mesa, furioso.

- Não precisava mentir, talkey? Para substituir o Weintraub só sendo alfabetizado, já bastava.

O secretário foi mais pessimista:

- Só falta descobrirem que ele não é negro.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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