Coluna

“Doutor honoris quase” do mito

- Marineth, parte do título acima sobre o trapaceiro ministro do mito pés de barro que ocupa o trono da presidência da República é de autoria de Lucas Rocha Furtado, subprocurador-geral junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). Ele pediu à corte que apure possível prejuízo ao erário público devido à nomeação de Carlos Alberto Decotelli no cargo de ministro da Educação,

- Athaliba, a bem da verdade, a expressão “doutor honoris quase” não é de propriedade do Lucas, que a usurpou de um meme da internet na qual está na frase “O MEC acaba de criar uma nova titulação: DR. HONORIS QUASE”. E, também, assim como, obviamente, a tua abordagem é assentada na exploração das notícias que circulam na mídia sobre o Carlos Alberto Decotelli, né?

- Sim, Marineth. Aqui não existe razão nenhuma para omissão ou se guardar segredo. E como dizia Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A frase dele, Antoine Laurent Lavoisier, francês nascido em 26/8 de 1743, se originou do processo em que “a massa dos produtos da reação era igual aos que deram origem a ela”, conhecido como princípio da conservação de massas. Hoje sabemos que as substâncias perdem quantidade minúscula de massa nas reações químicas ordinárias, ocorrendo devido à perda de energia. E, como Einstein mostrou, a energia e massa são dois lados da mesma moeda. Ou seja, a massa não é “perdida”, mas, sim, transformada em energia.

- Athaliba, o assunto não é sobre Lavoisier, considerado o “pai da química moderna” e que comprovou que a água é uma substância composta de dois elementos: hidrogênio e oxigênio. Ele foi guilhotinado em 8/5 de 1794, aos 50 anos, nos rastros da revolução francesa que executou os integrantes da Ferme Générale, sociedade que explorava impostos do povo. Qual destino terá a cabeça do Decotelli?

“Doutor honoris quase”
O mito pés de barro caiu na gargalhada na apresentação do ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva, que foi desmentido de ter título de doutor. (Foto: Divulgação)

- Marineth, mesmo com falsificações que ele colocou no Currículo Lattes comprovadas que não tem título de doutor pela Universidade de Rosário, na Argentina, e também pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha, o mito pés de barro não desistiu de nomeá-lo. O escândalo ganhou proporções inimagináveis aqui no Brasil e no exterior que o Lucas Furtado questiona se o “curso de doutorado” do Decotelli foi custeado com recursos públicos, por meio de bolsa concedida pela Capes ou pelo CNPq, exigindo indenização aos cofres públicos se a nomeação for cancelada.

- Athaliba, o subprocurador-geral tem razão, pois ficará demonstrado que o governo foi induzido a erro ao escolher o novo ministro da Educação, por eventual critério técnico que relevou ser falso, no caso, o inexistente doutorado divulgado pelo Decotelli.

- Marineth, uma amiga, professora, me confidenciou sua frustração com o episódio. Antes, vangloriando-se do fato de um negro assumir cargo tão importante no executivo federal, ela caiu em choro convulsivo diante do que se revelou a seguir. “Estou decepcionada e triste com o caso - desabafou -, pois o meu contentamento com a nomeação caiu na vala comum. Aliás, como seria possível colocar ‘uma pérola negra lapidada’ numa corrente de incompetentes manipulados por esse presidente inábil? Se o “doutor honoris quase” for mantido será igual ao capitão do mato da Fundação Cultural Palmares”.

- Athaliba, minha solidariedade à sua amiga, que expressa o sentimento de boa parcela da população. Afinal, esperava-se que após os fiascos de amarga lembrança dos titulares da pasta, Ricardo Velez Rodriguez e Abraham Weintraub, o Ministério da Educação viesse a ter dirigente qualificado. Há exatamente um ano, em junho de 2019, seis ex-ministros da Educação - José Goldemberg, Murilo Hingel, Cristovam Buarque, Fernando Haddad, Aloizio Mercadante e Renato Janine – divulgaram carta à opinião pública alertando sobre a ameaça à Educação no governo Bolsonaro. Eles anunciaram ainda a criação do Observatório da Educação Brasileira - alternativa para dialogar com gestores, secretários de Educação, acadêmicos, pesquisadores e outras áreas sociais -, após se reunirem no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

- Marineth, o mito pés de barro já entrou para o lixo da história, infelizmente, inclusive pela incompetência demonstrada nessa pandemia do COVID-19 que até o momento causou a morte de mais de 500.000 pessoas no mundo, beirando a 60.000 no Brasil. Espero que o povo tenha aprendido a lição. Oxalá que daqui prá frente a nossa pátria amada não venha a ter concorrente com o mito pés de barro. Só o poder popular salva. Cruze os dedos e bata três vezes na madeira!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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