Coluna

Buchas de canhão do mito

Na reunião comparada a encontro de milicianos jorrou palavões e faltou soluções para os problemas que afligem o povo. (Reprodução)

- Athaliba, a exibição do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril à opinião pública, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), escancarou de forma vergonhosa as buchas de canhão do mito pés de barro que ocupa o trono da Presidência da República do Brasil. Essa observação é de vários analistas políticos. Alguns deles apontam que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, independentemente às criticas por ele ter aceitado cargo no governo, teve a coragem de se indignar as bravatas e arrogâncias e denunciou a tentativa do mito pés de barro em exercer poder absoluto.

- Marineth, realmente, crítica à parte ao ex-juiz, que foi símbolo do combate à corrupção no país, e picado pela mosca-azul ao se deixar seduzir pelos desencantos do mito, a que se louvar a atitude dele. Depois da dita reunião, comparada até como “encontro de milicianos”, não restava a ele outra atitude, sob a pecha de passar à história como “marionete” e/ou “buchinha de canhão”. A acusação dele de intervenção do mito na Polícia Federal no vídeo da reunião também gerou indignação no país e no exterior devido às barbaridades ventiladas. Tanto pela quantidade de palavrões do mito pés de barro quanto pelas intervenções esdrúxulas de alguns dos ministros.

- Athaliba, atitudes inimagináveis e inaceitáveis. O representante da pasta da Educação, o paulistano Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub, no alto do pedestal da Babilônia, disse que “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”. Já a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, a paranaense e pastora evangélica Damares Regina Alves, afirmou que “a pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir, inclusive, a prisão de governadores e prefeitos”. Por sua vez, o paulistano Ricardo de Aquino Salles, ministro do Meio Ambiente, observou que “precisa ter um esforço aqui, enquanto estamos, nesse momento de tranquilidade, no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de COVID, e ir passando a ‘boiada’ e mudando todo o regramento e simplificando normas”. E o Paulo Roberto Nunes Guedes, carioca, ministro da Economia, em alto e bom som, sobre o Banco do Brasil, esbravejou que “tem que vender essa porra logo”.

- Marineth, vexatório também na fatídica reunião ministerial foi constatar a passividade dos generais da reserva Antonio Hamilton Martins Mourão, gaúcho, vice-presidente da República; e Walter Souza Braga Netto, mineiro, ministro da Casa Civil. Os dois, um a cada lado do mito, apelidado na caserna de “Cavalão”, conforme é registrado no livro O cadete e o capitão – A vida de Jair Bolsonaro no quartel, de Luiz Maklouf Carvalho, contemplaram complacentemente atos análogos ao “inferno” da obra Divina comédia, de Dante Alighieri.

- Athaliba, cabe, aqui, o registro da morte do jornalista e escritor Luiz Maklouf, aos 67 anos, dia 16/5, em São Paulo. Ele tratava de câncer no pulmão há dois anos e a família lamentou a morte nas redes sociais. A filha dele, Luiza Maklouf, afirmou em texto que o jornalista “deixa um legado para o nosso país, uma obra importante, sete livros, centenas de reportagens”. 

- Marineth, ele, realmente, foi competente repórter investigativo e O cadete e o capitão – A vida de Jair Bolsonaro no quartel é leitura obrigatória.

- Athaliba, ocê acha que já é possível divisar no horizonte as consequências que podem advir da sinistra, funesta, nefasta reunião ministerial?

- Marineth, o grau de incertezas, na atual conjuntura, atingiu patamares inimagináveis, agravado com a epidemia do COVID-19. Mas, no campo da possibilidade, as responsabilidades dos atores serão cobradas, devidamente, no seu tempo. Não passarão em branco as aberrações cometidas contra o STF, principalmente. E, provavelmente, na esfera política, no próximo pleito eleitoral, o mito pés de barro poderá amargar expressiva derrota através dos seus candidatos aos cargos de prefeito e de vereador por todo o país. A barganha com o centrão não o salvará

- Athaliba, alguns dos eleitores do mito que o ascenderam ao trono da presidência do país estão fazendo mea-culpa. Um destes eleitores – uma amiga de longa data, sensata, coerente – me confidenciou o voto no ex-capitão. Falou que se sente arrependida e tem vergonha do voto.

- Marineth, isso não é exclusividade de sua amiga. Tem muita gente fazendo autocrítica. E tem uma legião de devotos do mito, infelizmente. E aí, amiga, os ânimos podem se acirrar cada vez mais nas ruas. Fique esperta. O samba questiona “como será o amanhã?/Responda quem puder”. Portanto, deixa a verdade e as vantagens da dúvida para quem souber. Vamos em frente!

Lenin Novaes

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Crônicas do Athaliba

LENIN NOVAES jornalista e produtor cultural. É co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som - MIS

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